Circulando de muletas por causa de uma fratura no joelho, o apresentador Luciano Huck andava com alguma dificuldade na tarde desta sexta-feira (20) ao participar de uma feira sobre empreendedorismo na região da Berrini, em São Paulo. Sentado, porém, ele demonstrou agilidade, ao fazer uma palestra em que, mais do que falar do tema do evento, tratou de política e deu novos e claros sinais da sua disposição de entrar na briga em 2018. O apresentador – que vem conversando com partidos como o Novo, Rede, DEM e PPS a respeito de uma possível filiação – defendeu a renovação no Congresso Nacional e atacou a “corrupção endêmica” no país.
“Eu juro para vocês, não tenho vaidade nenhuma em relação ao poder. Minha vaidade está superbem administrada com o que eu faço. Eu não tenho nenhum desespero. Mas quero participar”, admitiu Huck, embora venha negando intenção de ser candidato nas eleições do ano que vem. O apresentador está envolvido com movimentos como o Agora!, que prega a formação de novas lideranças, e lançará concorrentes para a Câmara dos Deputados, e o RenovaBR, fundo cívico montado por empresários para bancar a formação de potenciais candidatos em 2018.
Além disso, ele tem dito que quer dialogar com diferentes correntes de pensamento e entender bem o terreno onde está pisando, no papel de alguém de fora do dia a dia da política que deseja dar sua contribuição, segundo ele. Tal afirmação é vista como uma estratégia para, no próximo ano, colocar-se como “outsider” – modelo de candidato que se declara “apolítico” e que afirma representar a mudança por ser de fora do meio político atual.
Luciano Huck analisa com especial interesse formas de atrair novas lideranças para o Legislativo. Um eventual endosso ou declaração de apoio a candidatos no Executivo deve ser avaliado posteriormente. A avaliação dele, na palestra, é que o cenário para a Presidência seguirá nebuloso enquanto não se decidir a presença ou ausência do ex-presidente Lula (PT), que pode alterar profundamente o jogo.
“Nasci nos Jardins, aqui em São Paulo. Se você não tomar cuidado, você vai frequentar o mesmo restaurante, a mesma turma, a sua vida inteira. E o Brasil é muito maior do que isso”, afirmou o apresentador, ao relacionar o tema do seminário com seu trabalho na TV, como os quadros no “Caldeirão do Huck”, da Globo, em que ajuda e incentiva pessoas comuns.
Ao comentar os quadros, Huck formulou frases típicas utilizadas por candidatos. “Nesses 18 anos eu posso dizer que eu rodei este país inteiro. Eu conheço o Brasil profundo e isso ninguém vai tirar de mim”, disse. Ele usou também expressões próprias do ambiente corporativo, como “inspiração exponencial”, “empoderamento” e “start-up”, ao afirmar que o processo de “reinvenção do Brasil” passa pela superação da cultura do “jeitinho” e pela mudança de valores.
Luciano Huck convidou para participar de sua palestra a doceira Gerlândia Gomes, que passou por uma vida de privações, apareceu neste ano em um quadro de seu programa na Globo e hoje se apresenta como empreendedora. “Meu trabalho é poder usar essa capacidade de chegar às pessoas com uma mensagem positiva. O Brasil está tão carente de bons exemplos. Ética hoje é a palavra mais em desuso”, discursou, acrescentando que é hora de sua geração “arregaçar as mangas” e “parar de só apontar o dedo para os problemas”.
Definindo-se como um “liberal”, Huck afirmou que não dá para falar em meritocracia no Brasil enquanto persistirem as desigualdades e faltarem oportunidades para todos. “O que me incomoda nos discursos políticos que ouço hoje em dia é que o Brasil profundo não está sendo lembrado. O país é extremamente desigual. O projeto que funciona para a avenida Faria Lima (região de classe média-alta de São Paulo) não é o mesmo que funciona para Inajá, no interior de Pernambuco”, reforçou, em tom político.
Chamando o Estado brasileiro de “grande”, Huck defendeu ideais liberais, ao defender que o governo atue apenas em áreas básicas. “Mas, bicho, no resto deixa o mercado se regular. Abre, deixa ele concorrer”, afirmou, ponderando: “Mas você achar que o mercado liberal vai fazer o país ser um país mais justo é de uma ingenuidade enorme. O Brasil tem que ter pensamento eficiente de um lado e afetivo de outro”, concluiu.
Agencias.