Quase metade das pessoas do Brasil (46%) acredita que, neste momento, o país deveria priorizar iniciativas que dão fim à desigualdade de salários entre homens e mulheres. É o que aponta a pesquisa realizada pela Ipsos e The Global Institute for Women’s Leadership para o Dia Internacional da Mulher, celebrado em 08 de março. Em um ranking com 28 nacionalidades, os brasileiros estão, empatados com os espanhóis (46%), entre os que mais concordam que acabar com a disparidade salarial entre gêneros deveria ser uma prioridade nacional. Em sua frente estão apenas o Chile (53%), a África do Sul (52%), a França (51%) e a Bélgica (47%). Para os brasileiros, a concordância chega a 51% entre as mulheres contra 41% entre os homens entrevistados.

Enquanto 46% dão prioridade à questão da disparidade salarial entre gêneros sobre outras preocupações, 31% acham que o fim da desigualdade de salários entre homens e mulheres no mercado de trabalho é importante, mas não deveria ser um assunto prioritário no momento. Além disso, 7% dos entrevistados brasileiros acreditam que o tema não tem importância e 16% não souberam responder. Na média global, considerando todos os respondentes do estudo, 36% acreditam que acabar com a diferença salarial deve ser prioridade.

Se para 53% das pessoas no Brasil as preocupações com a diferença salarial entre gêneros são uma resposta a um problema real, um em cada cinco (21%) acha que preocupar-se com o tema é um exemplo de como o politicamente correto foi longe demais. No mundo todo, a quantidade de respondentes que acredita que o assunto é um exagero do politicamente correto é ligeiramente menor, de 19%, enquanto 50% acham que a preocupação com a disparidade de salários entre homens e mulheres corresponde a um problema real na sociedade. Mais uma vez, no Brasil tem uma diferença percentual de 10 pontos entre as mulheres e homens entrevistados: para 57% das mulheres brasileiras, a disparidade salarial é um problema sério contra 47% dos homens.

A pesquisa avaliou, ainda, a percepção dos participantes sobre a cobertura de imprensa sobre a desigualdade salarial entre gêneros. De 28 nações, o Brasil é a que demonstra maior confiança na mídia: 58% dos entrevistados acreditam que os veículos de imprensa estão dizendo a verdade, 14% acham que estão reproduzindo fake news, 18% não souberam opinar e 10% responderam “nenhuma das alternativas”. No mundo, a descrença é maior: somente 41% acham que a mídia está dizendo a verdade e 18% acreditam que as notícias sobre a disparidade salarial no mercado de trabalho são fake news.

Profissões “de mulher” têm salários menores, avaliam entrevistados

O levantamento listou uma série de profissões e pediu que os respondentes opinassem se a ocupação era majoritariamente composta de homens, mulheres ou de homens e mulheres em igual número. Além disso, eles deveriam dizer, baseado em um ponto de vista pessoal, e se achavam que cada uma das profissões era bem paga, mal paga ou que seus profissionais recebiam um pagamento correspondente à função exercida. No Brasil, os empregos ocupados em sua maioria por mulheres são os que recebem salários mais baixos, segundo os entrevistados.

As profissões que demandam cuidado com o próximo costumam de ser vistas como “de mulheres”. Para 73% dos brasileiros, o emprego de babá é composto na maioria por mulheres e 60% acham que a categoria é sub-remunerada. A enfermagem é outra área reconhecida como feminina – 41% acreditam que as mulheres são maioria – que é mal paga, na opinião de 62% dos respondentes. Além disso, 45% acham que os cuidadores de idosos são, majoritariamente, mulheres, e 64% opinam que esses profissionais recebem menos do que deveriam.

Por outro lado, ocupações mais vistas como masculinas são geralmente bem remuneradas. Um exemplo disso são os políticos. Para 70% dos entrevistados brasileiros, a categoria é feita de homens e 77% alegam que eles ganham mais do que o que seria adequado ao cargo. A profissão de banqueiro também é representada por homens, na opinião de 57%, e tem remuneração acima do considerado justo, para metade (51%) dos respondentes do Brasil.

Pandemia pode potencializar disparidade de gênero

A pesquisa também considerou os efeitos da pandemia de Covid-19 na disparidade entre os gêneros. No Brasil, 13% dos entrevistados acreditam que os impactos sociais, econômicos e de saúde serão mais negativos para o gênero feminino, contra 8% que apostam em consequências mais severas para homens do que para mulheres. Quase sete em cada 10 (67%) avaliam que o impacto será o mesmo para ambos os gêneros, 10% não souberam opinar e 1% disse que a crise do novo coronavírus não trata efeitos negativos.

Na média global, levando em conta os 28 países, 12% acham que as consequências da pandemia serão piores para mulheres, 10% acreditam que serão piores para os homens e 64% acham que serão as mesmas para os dois gêneros. Além disso, 10% não souberam responder e 3% acha que a crise sanitária causada pela Covid-19 não trará efeito algum.

Perguntados sobre quais iniciativas o governo deveria implementar para garantir que o programa de recuperação pós-pandemia enderece os problemas enfrentados pelas mulheres, 41% dos brasileiros citaram um melhor acesso ao sistema de saúde, 40% mencionaram o investimento em programas de criação de empregos e 36% pediram um apoio maior às mulheres e meninas vítimas de violência ou abuso.

No mundo todo, outra ação foi tida como a mais importante: 40% citaram o oferecimento de maior flexibilidade na jornada profissional, como home-office e trabalho de meio período, 36% pediram um apoio maior às mulheres e meninas vítimas de violência ou abuso e 33% solicitaram melhor acesso ao sistema de saúde.

A pesquisa on-line foi realizada com 20.520 entrevistados, sendo mil brasileiros, com idade entre 16 e 74 anos de 28 países. Os dados foram colhidos entre 22 de janeiro e 05 de fevereiro de 2021 e a margem de erro para o Brasil é de 3,5 pontos percentuais.

Sobre a Ipsos

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