Cabrobó, no Sertão de Pernambuco, está vivendo um momento histórico. O município está há mais de um ano sem registrar assassinatos. Isso só foi possível graças a um trabalho realizado em conjunto com todas as esferas da sociedade. Uma conquista e tanto para uma cidade que já foi marcada pela violência das brigas entre famílias.
O município já viveu dias sombrios. A violência causou muitos estragos no passado, por causa de brigas entre famílias. A do agricultor Barná Russo era uma delas. “Essa guera começou na década de 80, no município de Belém do São Francisco e veio para Cabrobó no ano de 1994. Aí terminou envolvendo cinco famílias. Foi um passado muito triste, causou muitas mortes, acabou muitas famílias, mais de 300 mortes.”, diz o agricultor.
“Procuramos os líderes das famílias e conseguimos acabar com esse passado. Inclusive, graças a Deus, Cabrobó hoje é referência, em Pernambuco e nacionalmente, e vamos celebrar no mês de junho a 21ª missa da paz envolvendo as famílias do Sertão”, completa seu Barná.
Depois do acordo firmado entre as famílias, a paz se restabeleceu no município que tem quase 35 mil habitantes. Cabrobó ganhou ares de cidade pacata e as cenas vistas pelas ruas ajudam a ter uma noção disso. “Cabrobó é muito tranquilo. Teve uma época que foi pouco amedrontante (sic), mas agora está tudo legal. É muito calmo”, afirma a comerciante Maria Lucas Vieira.
A tranquilidade de Cabrobó não é apenas aparente. Também foi comprovada pelas estatísticas. Segundo a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco, o município não registra assassinatos há mais de um ano.
A redução foi gradativa e vem sendo observada desde 2017, quando foram registrados 14 homicídios. Em 2018 caiu pra 8, sendo o último registrado no mês de dezembro. Em 2019 não houve nenhum. E até o dia 9 de março deste ano, ninguém foi assassinado.
Outros 11 municípios de Pernambuco também estão há mais de um ano sem qualquer ocorrência de morte violenta: Alagoinha, Cumaru, Palmerina e Salgadinho, no agreste; São Benedito do Sul, na zona da mata; Triunfo, Itacuruba, Granito e Serrita, no Sertão, também não registram homicídios desde de 2017; e ainda a Ilha de Fernando de Noronha onde ninguém é assassinado há 11 anos.
De acordo com o delegado da cidade, João Leonardo Freire Cavalcanti, em Cabrobó ainda houve uma redução em outros tipos de crimes. “Além dos homicídios, Tivemos redução nos crimes de roubo, furtos e nas fraudes em geral. Cabrobó faz parte da IS 25, que teve no ano de 2019 uma redução de 20% nos crimes patrimoniais. Só o município de Cabrobó, grande responsável por essa redução expressiva, chegou a ter uma redução de 41% no de 2019, em relação ao mesmo período de 2018”.
Diversas instituições contribuíram para a diminuição nos índices de violência em Cabrobó. A polícia civil, com rapidez nas investigações e no envio de inquéritos. A Polícia Militar com um trabalho de prevenção. O prefeito do município, Marcílio Cavalcanti, afirma que o diálogo direto com a população tem ajudado muito.
O município é o único da região a ter um conselho de segurança pública próprio, que existe desde julho de 2018.
“O Conselho de Segurança é uma instância de governança e de diálogo sobre a questão da segurança pública de nosso município. Ele foi importante para a construção desses resultados, porque ele permitiu uma aproximação entre os diversos órgão públicos que oferecem segurança pública em nosso município”, afirma Elionai Dias, presidente do Conselho Municipal de Segurança de Cabrobó.
“Segurança pública não é apenas enfrentamento, ela compõe uma rede de proteção maior, que integra secretaria da mulher, ação social, educação. A gente permitiu que essas instâncias de oferecimento de segurança pública dialogassem. São ações que vêm a fortalecer essa construção desse resultado em nosso município”, completa Elionai.
O município de Cabrobó mostra que, quando cada um faz a sua parte, unidos pelo mesmo propósito, é possível mudar a realidade do lugar onde vivemos. Os moradores sentem orgulho do resultado alcançado. “Aqui, na minha cidade, a gente pode andar tranquilamente”, diz o vigilante Júnior Nogueira.