O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou nessa quinta-feira (13) pela primeira vez desde o anúncio da condenação dele por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Na quarta-feira (12), o juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal no Paraná, condenou Lula a nove anos e meio de prisão ao aceitar a acusação do Ministério Público de que o ex-presidente recebeu um apartamento triplex, em Guarujá, no litoral paulista, como propina paga pela empreiteira OAS em troca de favores em contratos da Petrobras. Lula vai poder recorrer da condenação em liberdade.

Diante de cerca de 300 correligionários, em São Paulo, o ex-presidente disse que não analisaria a questão do ponto de vista jurídico porque vê um componente político na sentença de Moro.

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Segundo Lula, os procuradores inventaram uma tese e, com base nela, decidiram condená-lo de qualquer maneira.

“A sentença de ontem tem um componente político muito forte. Eu, obviamente, não vou entrar nos componentes jurídicos, porque tudo que eu tenho lido até agora e tudo que eu tenho ouvido é que o juiz Moro passou praticamente escrevendo 60 páginas para se justificar da condenação. Em que, praticamente, em 900 e não sei quantos parágrafos, ele utilizou cinco da defesa. E me parece que não havia nenhum interesse. Então, o que acontece de fato e de direito nisso aí? Ou seja, na medida em que nenhuma verdade era levada em conta, na medida em que o PowerPoint permeou todo o comportamento deles, eu já cansei de falar e vocês sabem, eles diziam que o PT era uma organização criminosa, que o PT se preparou para ganhar o governo, para alguém do governo roubar e o Lula era o chefe. A partir daí, eles não precisavam mais nada”.

Na sentença, o juiz Sérgio Moro afirma que condenou Lula com base em provas documentais, testemunhas e periciais. Mas, no discurso desta quinta, Lula voltou a repetir que não existem provas e que é inocente.

“Porque a única prova que existe nesse processo, de não sei quantas mil páginas, é a prova da minha inocência. É a única prova, é a prova da minha inocência. Eu queria fazer um apelo à imprensa, um apelo ao povo brasileiro: se alguém tiver uma prova contra mim, por favor, diga. Mande para Justiça, mande para Suprema Corte, mande para imprensa, porque eu preciso. Eu ficaria mais feliz se eu fosse condenado com base numa prova, se eles me desmascararem: ‘está aqui ó, você realmente cometeu um ilícito, você cometeu um erro’. O que me deixa indignado, mas sem perder a ternura, é você perceber que você está sendo vítima de um grupo de pessoas que contaram a primeira mentira, que vão passar a vida inteira mentindo para poder justificar a primeira mentira que contaram de que o Lula era dono de um triplex. Não sou dono de um triplex, não tenho triplex, e ainda fui multado em R$ 700 mil, porque agora o triplex é da União. Eles tomaram o triplex, e eu tenho que pagar R$ 700 mil para Petrobras. Eles poderiam me dar o triplex, eu vendia o triplex e pagava a multa”.

Lula disse que, apesar de indignado, não perdeu a crença na Justiça. E opinou que a sentença do juiz Sérgio Moro deveria dar origem a um processo no Conselho Nacional de Justiça. O conselho, na verdade, não julga sentenças dos juízes, mas atos administrativos de magistrados. Lula justificou tal medida porque, no entender dele, houve mentiras no processo.

“Então eu queria dizer pra vocês que a minha indignação como cidadão brasileiro não me faz perder a crença de que neste país ainda existe justiça. Por isso, nós vamos recorrer em todas as instâncias de todas as arbitrariedades. Eu acho que inclusive é preciso a gente processar essa sentença no Conselho Nacional de Justiça, é preciso a gente fazer processo contra quem mentir, contra quem não disser a verdade neste país porque cada vez que eu vou prestar um depoimento eu digo: só eu tenho interesse na verdade aqui. Agora mesmo eu fui prestar um depoimento e o procurador falou para mim: ‘Não, o senhor não precisa prestar como testemunha, porque como testemunha o senhor é obrigado a falar a verdade. Você pode prestar como informante’. Eu falei: ‘Não, eu quero prestar como testemunha porque eu vim aqui para falar a verdade’. Quem queria que eu falasse como informante é porque não queria que eu dissesse a verdade”.

A força-tarefa da Lava Jato disse que não vai comentar as acusações feitas por Lula.

Se a sentença for confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre, antes das eleições de 2018, Lula ficará inelegível por duas razões: porque o juiz Sérgio Moro o condenou também à perda dos direitos políticos por sete anos, e porque a lei da ficha limpa proíbe que condenados em segunda instância sejam candidatos a cargos eletivos. Mas Lula disse que agora é que postula mesmo ser candidato à Presidência em 2018.

“E queria terminar dizendo uma coisa pra vocês. Eu quero respeitar os companheiros do PDT, os companheiros do PC do B, os companheiros do movimento social. Eu quero dizer uma coisa pra vocês. Se alguém pensa que com essa sentença me tiraram do jogo, podem saber que eu estou no jogo. Podem saber. Agora quero dizer ao meu partido que eu até agora não tinha reivindicado, mas a partir de agora vou reivindicar do PT o direito de me colocar como postulante à candidatura à Presidência da República do Brasil em 2018”. ( Fonte/ Jornal Nacional).