As consequências do rompimento da barragem 1 da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), no último dia 25 de janeiro, ainda estão em curso. O alerta foi feito por especialistas em audiência pública da Frente Parlamentar em Defesa do Rio São Francisco, realizada nesta segunda (3), na Câmara Municipal de Petrolina, no Sertão. O encontro discutiu os riscos de contaminação do Velho Chico pela pluma de rejeitos oriunda da tragédia.
O pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) Neison Freire apresentou um estudo de monitoramento geoespacial da entidade sobre o tema, elaborado entre janeiro e abril deste ano. O levantamento concluiu que o material contaminante chegou à Represa de Três Marias no dia 12 de março, através do Rio Paraopeba, e está se diluindo em direção a Pernambuco. Ainda não há dados sobre quando e com que intensidade as substâncias tóxicas vão atingir o Estado.
O quadro atual, porém, é preocupante, afirmou o especialista. “Enquanto essa lama não for retirada, com destinação adequada e limpeza das áreas, o risco de contaminação permanece constante e cada vez mais próximo das cidades pernambucanas. É um fenômeno dinâmico e o que causa esse dinamismo, do ponto de vista geográfico, é o próprio Rio São Francisco”, explicou. Freire ainda observou que o cenário pode trazer prejuízos para a fruticultura irrigada da região de Petrolina-Juazeiro, responsável por cerca de 80% das exportações de manga no Brasil.
Mais de 16 milhões de pessoas dependem dessa e de outras atividades ligadas ao rio, segundo o vereador de Petrolina Ronaldo Cancão (PTB). O parlamentar viajou a Minas Gerais, entre os dias 16 e 23 de março, para avaliar a situação dos rios mineiros. Também participou da visita técnica a vereadora Cristina Costa (PT), que lamentou a destruição do meio ambiente. “Foi gravíssimo o que aconteceu em Brumadinho. Me chamou atenção especialmente o comprometimento dos rios de Minas Gerais, como o Paraopeba. São vários afluentes que desaguam no Rio São Francisco com grande quantidade de resíduos, prejudicando a vida humana”, disse.
O grupo de trabalho esteve nas Câmaras de Vereadores de Brumadinho, de Três Marias e de Belo Horizonte para sensibilizar o Poder Público mineiro sobre o assunto. Em Pernambuco, os reflexos do desastre podem ir muito além do esperado, na avaliação do presidente do Distrito de Irrigação do Perímetro Senador Nilo Coelho, José Loyo. A empresa tem feito reuniões semanais para monitorar o caso.
O representante do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, Julianeli Lima, frisou que a contaminação é uma realidade, pois a pluma de rejeitos já está na calha do rio. A opinião foi endossada pelo coordenador-geral da Frente Parlamentar, deputado Lucas Ramos (PSB). “Os resíduos já atingiram a Barragem de Três Marias, então é evidente que a própria correnteza do rio e a vida aquática levaram esses rejeitos de minério para o leito do Velho Chico”, observou. “Nossa preocupação é saber quais as ações que estão sendo tomadas pelos Poderes Públicos federais, estaduais e municipais dos municípios localizados ao longo do leito do São Francisco.”
A partir de agora, a Frente Parlamentar deve reunir as informações coletadas nessa e em outras duas audiências públicas para elaborar um relatório. O documento vai ser compartilhado com os poderes Legislativos e Executivos da Região Nordeste. A realização da audiência nesta data foi simbólica: em 3 de junho é comemorado o Dia Estadual do Rio São Francisco. ( Alepe/PE).