Bastam algumas tentativas de buscas na internet para ficar clara a inexistência de notícias de políticos utilizando equipamentos públicos, como hospitais, transporte e escolas. Dessa forma, a decisão de Helton Barreto, prefeito da cidade de General Câmara (RS) deixa muitos boquiabertos. Podendo escolher entre a escola pública ou a privada para seus dois filhos, de 5 e 8 anos, ele optou pela primeira.

Prefeito desde 2017 do município com cerca de 8 mil habitantes, Barreto acredita que sua atitude contribui para que os munícipes confiem mais nos serviços da cidade. “Vejo que a educação é o caminho, não só aqui, mas em todo o Brasil. Eu e minha esposa somos egressos da escola pública. As escolas de General Câmara sempre foram boas e na nossa gestão qualificamos ainda mais com o sistema Aprende Brasil que, entre outras coisas, aprimora o raciocínio lógico. Acredito que manter os meus filhos na escola pública é uma forma de estarmos integrados à população e mostrarmos que temos confiança no serviço público”, diz ele.

Para o advogado e mestre em Ciência Política Francis Augusto Góes Ricken, professor da da Escola de Direito e Ciências Sociais da Universidade Positivo, a raridade do ato do prefeito de General Câmara evidencia a desvinculação do político brasileiro com a realidade da qual ele vive, visto que, em muitos países ao redor do mundo, sobretudo na Europa, é comum e até esperado que políticos e seus familiares se utilizem do sistema público de saúde, transporte e educacional. “No Brasil temos uma desvinculação muito clara do político quanto à realidade da qual ele vive. Ou seja, o político vive dentro de uma perspectiva totalmente diferente da realidade da população (…). Aqui, se usa pouco orçamento no serviço público, destinando-o apenas ao povo, aos mais pobres, enquanto os políticos, que são privilegiados, sobretudo na questão salarial, não fazem uso destes serviços”, explica Ricken.

Caminhos

Na opinião do cientista político, o fato do Brasil ter uma democracia recente, em comparação aos países europeus, pode explicar a precária prestação de serviços no território nacional. segundo ele, no velho continente foi possível estabelecer parâmetros de administração de Estado muito mais longevos e concretos do que aqui, além da clara relação de serviços públicos de qualidade com questões de desenvolvimento econômico e social.

O professor aponta que a saída para o Brasil é o país investir em uma onda de proteção para bens básicos, como saúde e educação, por meio, dentre outras alternativas, de parcerias público-privado, fazendo com que o Estado utilize melhor o orçamento para fazer o que é necessário. “O correto seria fazermos com que o homem público visse nos serviços públicos uma boa solução para os seus problemas”, finaliza.