O candidato Jair Bolsonaro visita a sede da Polícia Federal no Rio de Janeiro Foto: MAURO PIMENTEL / AFP

Na quarta-feira (17), logo após visitar a Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro, o candidato do PSL ao Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro, disse que estava “com uma mão na faixa” presidencial. Soou arrogante, mas a declaração estava amparada em números de pesquisas do Datafolha e do Ibope. Elas apontavam, desde a semana passada, vantagem entre 16 e 18 pontos percentuais para Bolsonaro em relação ao seu adversário, o petista Fernando Haddad. A pesquisa divulgada na quinta-feira (18) leva a crer que a segunda mão de Bolsonaro roça a faixa presidencial. O levantamento mostrou uma diferença de 18 pontos percentuais (59% contra 41% dos votos válidos). O detalhe é os ponteiros do relógio andaram e só faltam nove dias para a votação no segundo turno.

Há outros números que corroboram o favoritismo do capitação reformado do Exército na disputa. Apenas 5% dos eleitores de Bolsonaro disseram que poderão trocar de candidato ou invalidar o voto. A chance de os simpatizantes de Haddad o traírem o é maior: 11%. Outra boa notícia para Bolsonaro está no quesito rejeição. Enquanto a dele ficou em 41%, a rejeição a Haddad alcançou a indesejável marca de 54% dos eleitores. O requinte de crueldade com Haddad mora na informação de que 5% daqueles que se dizem petistas votarão em Jair Bolsonaro.

A publicação de uma reportagem da Folha de São Paulo dando conta de que empresários simpáticos a Bolsonaro bancaram a proliferação de “Fake News” pelo Whatsapp contra o ex-prefeito de São Paulo foi um lufada de esperança no entorno de Haddad. Assessores do petista rapidamente se mobilizaram em algumas frentes. Entre elas: acionar a Justiça para apurar os fatos narrados na reportagem, provocar a Organização dos Estados Americanos (OEA) para observar o desenrolar dos fatos e tentar criar uma CPI no Congresso Nacional. Só que a pesquisa do Datafolha foi realizada na quarta-feira (17) e quinta-feira (18), dia da publicação da reportagem, e não mostrou nenhum abalo nos resultados de Bolsonaro. É preciso esperar para saber se a repercussão provocada pela reportagem terá reflexo nas próximas pesquisas e se provas irrefutáveis do que se narrou aparecerão.

A busca de Haddad por apoios entre próceres de grandes partidos políticos tem se mostrado infrutífera. A maior ferida na campanha do petista foi provocada por Cid Gomes (PDT), um aliado no Ceará. Ele disse que o PT “vai perder feio” por não ter feito uma autocrítica. Haddad não está entusiasmado em fazer autocrítica em nome do partido. Quando reconhece algum erro perpetrado pela legenda geralmente é no ambiente econômico e diz respeito aos mandatos da ex-presidente Dilma Rousseff, aquela que foi derrotada nas urnas em Minas Gerais de forma avassaladora. Ciro Gomes, que poderia fazer a diferença na campanha de Haddad, está longe, numa viagem à Europa. A fraqueza da parceria entre os dois foi exposta pelo próprio petista durante entrevista à Rádio Globo na quinta-feira. Ele disse ter falado com Ciro apenas uma vez após a divulgação do resultado das eleições no primeiro turno. A caça a tucanos para reforçar a campanha, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardos, também fraqueja. Haddad está tendo de se contentar com a solidariedade acanhada de juristas afinados ao PSDB.

Outra oportunidade que Haddad teria para tirar a vantagem expressiva de Bolsonaro seria em debates com o capitão. O ex-prefeito clama por isso. Mas Bolsonaro não está inclinado a ceder, mesmo sendo liberado pelos médicos a participar e sabendo que a população gostaria que ele fosse a esses embates. Bolsonaro não quer se arriscar e está convencido de que ganhará a eleição mesmo sem comparecer. O que mais Haddad pode fazer para reverter esse cenário desfavorável? Quem souber deve procurar o QG petista. Terá uma grande chance de ser ouvido.

FONTE: ÉPOCA