Celso Rocha de Barros – Folha de S.Paulo

Fernando Haddad é o candidato do Partido dos Trabalhadores à Presidência do Brasil e Manuela D’Ávila é sua candidata a vice. A confirmação da substituição definitiva dos nomes na chapa petista deve vir nos próximos dias,  talvez nas próximas horas.

Todo mundo sabia que isso tudo aconteceria: você pode discordar das decisões de Moro e do TRF-4, mas, depois de elas terem sido tomadas,  a inabilitação de Lula era inevitável.

Os petistas têm o direito de reclamar da rapidez incomum da decisão, mas ela provavelmente os beneficia.

A estratégia de manter Lula na disputa enquanto fosse possível revelou-se um sucesso. O PT ainda pode perder, mas é muito difícil imaginar que lançar outro nome desde o início teria deixado o partido em posição melhor do que está.

Lula se despede das eleições tendo dado um nó tático em adversários e comentaristas como poucas vezes se viu.

Mas havia o risco real de esticar demais a corda de sua candidatura e deixar Haddad com pouco tempo para se afirmar como candidato. Insistir até agora com Lula foi um ato de protesto. Insistir até o fim seria um teatro idiota.

As chances de Haddad e Manuela são boas. Lula tem quase 40% das intenções de voto. Não há motivo para duvidar que entre um terço e metade desses votos se desloquem para Haddad já no primeiro turno.

Ciro Gomes e Marina Silva serão adversários formidáveis na disputa pelo eleitorado lulista, mas o apoio explícito de Lula é uma senhora vantagem. O PT é um partido mais estruturado do que o PDT ou a Rede. Terá apoio de governadores importantes, inclusive de direita.

E não é só isso: Haddad tem bem menos tempo de TV do que Alckmin, mas tem mais do que Ciro e Marina. Como mostra artigo dos cientistas políticos Felipe Borba e Emerson Cervi em 2017 na revista Opinião Pública, o efeito mais claro do horário de TV nas disputas presidenciais até hoje foi ajudar ultrapassagens entre candidatos oposicionistas. O horário eleitoral deve ajudar Alckmin, mas deve ajudar mais Haddad.

Haddad já entra em campo, portanto, como um dos favoritos para vencer a eleição presidencial.

Mas essa não é uma eleição normal. Para começo de conversa, estamos aqui discutindo o quanto um cara preso conseguirá transferir para um cara solto seu imenso favoritismo. E isso não é, nem de longe, o mais esquisito sobre a eleição.

O fator aberrante é Jair Bolsonaro.
Bolsonaro não é um candidato normal. Não é possível ter certeza de que aceitaria uma derrota eleitoral, ou de que  governaria democraticamente.