Josias de Souza

No momento, nenhum outro adversário constitui maior ameaça a Jair Bolsonaro do que sua própria língua. Quando fala, sempre meio fora de si, ela revela o que o capitão tem por dentro. Quando cala, ela escancara a falta que sempre lhe faz a companhia de um Posto Ipiranga.

Nesta quinta-feira, de passagem pela cidade paulista de Glicério, a língua de Bolsonaro contou que os filhos dele manuseiam armas desde os cinco anos. ”A arma é inerente à defesa da sua vida e à liberdade de um país”, declarou. Munição “real”, fez questão de enfatizar. “Não é de ficção nem de espoleta não, tá ok?”.

Fale de Educação com Bolsonaro que a língua dele puxa logo um colégio militar. Fale de segurança pública que ela puxa logo uma pistola para cada brasileiro. Fale de economia que ela puxa logo meia dúzia de frases do ecomomista Paulo ‘Posto Ipiranga’ Guedes, fale de bom senso que ela puxa logo o ronco.

Um dos calcanhares de Bolsonaro na campanha é a desconfiança que ele desperta nas mulheres. Parte do majoritário eleitorado feminino é incapaz de enxergar as qualidades do candidato do PSL. E sua língua é incapaz de demonstrá-las. No caso das crianças de cinco anos, por exemplo, as mães talvez prefiram que seus filhos tenham porte de livros, não de armas.