Entre uma camiseta do Homer Simpson e outra da língua dos Rolling Stones, surge a estampa de um personagem um tanto quanto raro para uma banca de camiseta à beira-mar. Na feirinha de artesanato, castanhas e cachaças de Fortaleza, camisetas do candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL) ao mesmo tempo atraem e repelem clientes. “Tem gente que passa aqui e me xinga, diz que eu estou compactuando com ele, vira a camiseta no avesso”, diz a vendedora Gina Henrique. “Tem até quem diga que vai queimar. Eu só digo: custa 20 reais. Se quiser, pode comprar e fazer o que bem entender com ela”. Apesar da recusa de alguns, ela afirma que a camiseta vende bem. “Se não vendesse não estaria aí, bem na frente, empacando as outras”.
Além da barraca de Gina, ao menos outras quatro exibiam camisetas do capitão reformado para vender. E nos mostruários, o candidato não dividia espaço com mais nenhum outro político. “Fizemos o pedido para o fornecedor porque as pessoas passavam aqui e pediam”, diz, em outra barraca, a vendedora Mel Sousa. Ali, as camisetas do militar estão à venda desde janeiro. Mas não é todo dia que alguém compra. “Quando vende, é uma camiseta, uma vez na semana”, explica Liriel Pires, 16, a outra vendedora.
Elas dizem que não é a primeira vez que vendem camiseta de algum candidato ali na Feirinha Beira Mar. “Já teve do Lula e vendemos muito”, diz Mel, que diz não ser eleitora de nenhum dos dois. Na feirinha, vender camisetas não significa fazer campanha. “Se tem gente comprando, a gente vende”, diz. De acordo com ela, muitos clientes perguntam se haverá também camisetas de Lula novamente. “É só o fornecedor fazer. Se ele fizer, vai vender também”.
As duas vendedoras afirmam não ter candidato até o momento. “Mas em Bolsonaro eu não voto”, dizem elas, em coro. “Eu tirei meu título neste ano, vou votar pela primeira vez, mas não tenho candidato”, diz Liriel, que tem 16 anos. “Só sei que em Bolsonaro eu não voto. Vendo a camisa, mas não voto nele”, diz ela. “Olha aqui. Precisa dessas armas?”, emenda Mel, apontando para a camiseta que leva o rosto do capitão no meio de dois revólveres. “Não precisa, né? Não concordo com isso”.
A algumas barracas dali, os vendedores Vitória Noronha e Júnior Capistrano afirmam que pretendem dividir o espaço do capitão com outro candidato. “Já estamos providenciando as camisas de Ciro Gomes”, diz Capistrano. “Vamos fazer e dar de graça se alguém quiser”, conta o vendedor, eleitor fiel do pedetista, que foi Governador do Estado. “Ciro fala correto, é muito inteligente e não tem nenhum desvio de conduta”, diz ele. “Lá em casa todo mundo é Ciro”, emenda Vitória.
A preferência do casal, porém, em nada impede o sucesso nas vendas do rival de Ciro. Eles afirmam que muita gente compra, todos os dias, a camiseta de Bolsonaro. “A maioria que vem comprar é adolescente”, diz Capistrano. “Mas ontem chegou um senhor aqui e comprou cinco de uma vez”. De maneira geral, os vendedores afirmam que os compradores são essencialmente turistas. “A maioria que compra não é daqui”, disse Mel. “Aqui o povo aqui é Lula, independente do que for”.
Não é o caso do artista plástico Denis Silveira, 24. Nascido em Fortaleza, ele estava na barraca de Gina para comprar uma outra camiseta. Viu a de Bolsonaro e pensava se a compraria também. “Eu não concordo com tudo o que ele diz, mas em algumas coisas ele está certo”, disse, elencando a redução da maioridade penal e a liberação do porte de armas entre as ideias com as quais se identifica. “Sempre votei nulo. Uma vez votei em Dilma, mas aí no tempo dela teve corte no FIES [Fundo de Financiamento Estudantil] e eu me prejudiquei”, diz. “Neste ano, pensei em votar em Marina Silva, mas ela só aparece em época de eleição. Ciro Gomes muda o discurso conforme o público. Por isso estou pensando em Bolsonaro”, conta. A camiseta, ele não levou. “Ainda não tenho certeza”.
Fonte: El País.