Em matéria penal, Michel Temer revela-se um recordista. Supera suas próprias marcas numa velocidade estonteante. Virou o primeiro presidente da história a ser denunciado por corrupção. Tornou-se o primeiro mandatário a ostentar duas denúncias criminais. Sobreveio um inquérito sobre a suspeita de recebimento de propinas de empresas portuárias. E nesta sexta-feira, o relator da Lava Jato no Supremo, Edson Fachin, adicionou Temer no rol de investigados do inquérito que apura o pagamento de propina de R$ 10 milhões da Odebrecht para o PMDB. Coisa negociada num jantar no Palácio do Jaburu, a residência oficial de Temer.
A coleção de encrencas impressiona: presidente de um mandato-tampão, Temer ostenta duas denúncias e dois inquéritos. Para lidar com o passivo ético, o presidente desenvolveu uma filosofia peculiar. Para ele, não há problema tão grande que não caiba no dia seguinte. Ser transformado em réu, por exemplo, é uma coisa que Temer prefere deixar sempre para depois.
É falsa a impressão de que Temer resolve seus problemas penais. O presidente apenas sobrevive a eles. Terminado o mandato, as denúncias congeladas serão retiradas do freezer. E nada impede que os dois inquéritosos se convertam em mais um par de denúncias. Mais do que um presidente, Temer é um réu esperando para acontecer. Cada vez que ele faz pose de presidente, despenca sobre sua cabeça uma novidade para recordar aos brasileiros anestesiados que um presidente não pode ser só uma pose. É preciso que, por trás da pose, exista uma noção qualquer de ética.