Mais uma semana termina. E mais uma semana permanece no telhado do judiciário a posse de Cristiane Brasil como ministra do Trabalho. Envolvida em processos trabalhistas movidos por ex-funcionários, a deputada federal do PTB do Rio de Janeiro amarga desde 3 de janeiro uma nomeação que não conseguiu ser efetivada. Sua condição como ré em processos que chocam com o cargo ministerial inviabilizam cada vez mais sua instalação na Esplanada dos Ministérios.

Nos bastidores, o PTB já dá sinais de que o melhor mesmo a fazer é achar outro nome de consenso na bancada capaz de dar fim a esse mal estar de uma indicação naufragada. Interlocutores do Palácio do Planalto admitem que o presidente Michel Temer quer fazer o possível para honrar a palavra dada ao presidente do PTB nacional, Roberto Jefferson. Ele teme pagar a mais pela conta da fatura que já parecia quitada.

Jefferson é presidente do partido. E pai de Cristiane. Pivô do mensalão, foi cassado da Câmara dos Deputados em 2005, mas manteve seu poder político no partido. Conseguiu, junto à bancada federal, fechar questão na votação da reforma da Previdência. Ou seja, quem não votar a favor do governo, será punido pela legenda. Isso representa 16 votos favoráveis à reforma, uma quantidade preciosa para o governo diante do número ainda distante dos 308 necessários para a aprovação. Temer tem lealdade a Jefferson. Foi ajudado por ele nas duas denúncias que chegaram à Câmara contra o presidente. Daí a persistência em manter a indicação de Cristiane Brasil. Mesmo sabendo que o melhor seria arrumar outro nome e acabar com essa sangria.

E por falar em sangria, outra que ainda gera desconforto ao governo é a própria reforma da Previdência. Numa tentativa de engrossar a soma dos votos pró-reforma, o ministro chefe da Secretaria de Governo, Carlos Marun começou uma peregrinação pelo Brasil. A proposta é doutrinar os empresários dos benefícios das mudanças na lei das aposentadorias. Já esteve no Rio Grande do Sul, e esta semana baixou em São Paulo e Belo Horizonte a convite de industriais. Tenta comer pelas beiradas e convencer a sociedade de que a reforma é, sim, boa para o país. A estratégia é clara: se o povo compra a idéia, os deputados, preocupados em não contrariar ninguém em ano eleitoral, ficam mais relaxados em votar pelo governo. O presidente Temer, inclusive, esteve também em São Paulo gravando dois programas de auditório, um com Silvio Santos e outro com o apresentador Ratinho. Ato raro de um preseidnte da República comparecer em atrações do tipo. É o foco na reforma. E no povo.

Enquanto isso, tanto o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, quanto seu interino, Fabio Ramalho, cantam a pedra de que o mínimo de 308 ainda é um sonho distante. Mas segue na pauta, com mais 11 dias de recesso, um Carnaval no meio e um Congresso vazio, a votação marcada para 19 de fevereiro.