Ao comentar a dubiedade do compromisso do tucanato com a reforma da Previdência, Henrique Meirelles ironizou: “Não quero ter a pretensão de entender o PSDB”. A frase revela que o nariz do ministro da Fazenda é capaz de quase tudo. Brilha, espirra, coça, mete-se onde não é chamado… Só não consegue farejar o cheiro de queimado que exala do seu partido, o PSD. A grossa maioria da bancada federal da legenda não se dispõe a aprovar a reforma da Previdência. Num comportamento que desafia o entendimento de Meirelles, os deputados do PSD preferem adiar a encrenca para depois das eleições de 2018.

Além da pasta da Fazenda, o PSD controla o Ministério da Ciência e Tecnologia, onde dá as cartas o seu presidente licenciado, Gilberto Kassab. A legenda ocupa na Câmara 38 poltronas. Em privado, os correligionários de Meirelles estimam que apenas oito dos seus deputados se dispõem a votar a favor das mexidas previdenciárias. O flagelo é omitido ou negado em público para não constranger o titular da Fazenda.

Ocorre com o PSD de Meirelles e Kassab um fenômeno que se reproduz em todas as legendas governistas. Muitos deputados até teriam a disposição de arrostar o desgaste de votar a favor da reforma se tivessem a certeza de que a proposta seria aprovada. Como a perspectiva é a de que o Planalto não consiga colecionar os 308 votos de que necessita, os aliados não querem se desgastar com o eleitorado em vão.

Ironicamente, Meirelles é um ex-tucano. Em 2002, elegeu-se pelo PSDB como o deputado mais votado do Estado de Goiás. Convidado por Lula para presidir o Banco Central já no primeiro governo do PT, Meirelles não hesitou em renunciar ao mandato que acabara de conquistar. Desfiliou-se do PSDB. Posteriormente, fez baldeação no PMDB antes de chegar ao PSD, legenda que nasceu de uma costela do DEM de Rodrigo Maia, o presidente da Câmara. Ao criticar seu ex-ninho e silenciar sobre o PSD, Meirelles comporta-se como um sujeito que toca corneta sob um telhado de vidro.

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