O Brasil ainda lida com a falta de preparo das escolas e a necessidade de transformar a inclusão em um compromisso coletivo

A inclusão escolar busca garantir o acesso de todas as crianças e adolescentes à educação de qualidade, independentemente de suas condições físicas, cognitivas, emocionais ou sociais.

O objetivo é integrar alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades, superdotação e outras necessidades específicas em ambientes regulares de ensino, promovendo sua participação ativa e significativa no processo educacional.

Para que isso aconteça, as escolas precisam adotar adaptações pedagógicas, arquitetônicas e tecnológicas, além de fomentar uma mudança cultural que valorize e respeite as diferenças como parte essencial do aprendizado.

Para 2025, o cenário da inclusão escolar continua apresentando desafios complexos, exigindo que famílias, professores e a sociedade como um todo repensem suas posturas diante das diferenças e das singularidades humanas.

O papel da escola

Do lado dos educadores, as dificuldades vão além do currículo e das estratégias pedagógicas. Professores frequentemente se deparam com a pressão para cumprir prazos e adaptar atividades a diferentes tempos de aprendizagem, enfrentando, muitas vezes, a falta de preparo para lidar com as peculiaridades de cada aluno.

“Os cursos de pedagogia e licenciatura ainda priorizam o ensino de conteúdos e estratégias, mas não preparam os professores para lidar com pessoas e suas diversidades. Isso pode gerar desconforto, especialmente diante de situações que exigem empatia e habilidade para lidar com o imprevisível”, aponta a pedagoga e especialista em educação, Deyse Campos.

Muitos educadores acabam assumindo sozinhos a responsabilidade por solucionar conflitos e necessidades específicas, sem envolver a comunidade escolar como um todo. A tecnologia, embora seja uma aliada importante, não deve substituir o contato humano, que é essencial para o desenvolvimento de vínculos e relações genuínas.

A inclusão não é apenas uma questão de acesso, mas de pertencimento: criar ambientes que favoreçam a convivência, a colaboração e o desenvolvimento pleno de todos os estudantes.

Na Interpares, escola curitibana em que Deyse atua, a inclusão vai além do discurso. A escola adota práticas que integram o aluno ao ambiente escolar de forma significativa, valorizando suas potencialidades e promovendo interações que beneficiam todos os envolvidos.

“Acreditamos que a inclusão não é um favor, mas um direito que beneficia toda a comunidade escolar”, destaca. Entre as atividades desenvolvidas, Deyse destaca as aulas de campo que ocorrem semanalmente, diferentemente de muitas escolas onde essas atividades são limitadas a uma ou duas vezes por ano e frequentemente em locais fechados.

As crianças e jovens exploram a cidade em ambientes abertos, sendo incentivados a observar e refletir sobre questões de acessibilidade, diversidade social e econômica. Essa vivência permite que os alunos desenvolvam um sentimento de cidadania ativa, aprendendo a “ler” a cidade e compreender as dinâmicas que incluem ou excluem pessoas.

“Ao se tornarem exploradores do espaço urbano, eles ampliam sua visão de mundo e constroem uma relação mais profunda com a diversidade e os desafios do ambiente em que vivem”, explica.

Além de práticas pedagógicas, algumas escolas também estão criando espaços onde os alunos possam refletir sobre suas próprias necessidades e comunicar isso aos educadores. Esse tipo de abordagem ajuda a criança a se compreender melhor, identificar suas dificuldades e participar ativamente na construção de soluções, como ajustes em sua rotina escolar.

Essas práticas reforçam o compromisso com a inclusão, promovendo não apenas o aprendizado acadêmico, mas também o desenvolvimento emocional e social dos alunos. “Na Interpares, o foco está em integrar cada indivíduo de maneira significativa, transformando a escola em um espaço de acolhimento e pertencimento para todos”, conta.

O futuro 

Apesar dos desafios, a inclusão tem o potencial de transformar profundamente a sociedade. Conviver com a diversidade não apenas amplia horizontes, mas também contribui para o desenvolvimento da humanidade.

“Somos seres geneticamente diversos, mas, paradoxalmente, nosso pensamento ainda resiste à diversidade. É no contato com o outro que aprendemos a reconhecer nossas próprias potências e limitações, nos tornando verdadeiramente humanos”, destaca Campos.

Quando bem conduzida, a inclusão promove aprendizados significativos tanto para os alunos com deficiência quanto para seus colegas, ajudando a construir uma sociedade mais justa e empática. No entanto, quando mal articulada, pode gerar ressentimentos, preconceitos e uma falsa percepção de privilégios para aqueles que precisam de mais atenção.

“A diversidade é uma riqueza que precisamos aprender a reconhecer. É no contato com o outro que crescemos como indivíduos e como sociedade”, conclui Deyse.