Pablo Marçal, com seus 1,8 milhão de votos (28,14% do eleitorado da capital de São Paulo), sai das eleições municipais de 2024 com um capital político significativo. Ele ficou a apenas 56.853 votos de distância de Guilherme Boulos, e seu desempenho nas urnas sinaliza que Marçal tem força suficiente para disputar papéis ainda maiores em 2026, seja no Governo do Estado de São Paulo ou na Presidência da República.
O movimento de Marçal tem semelhanças claras com o que João Dória Jr. fez no passado. Quando foi eleito prefeito de São Paulo, Dória rapidamente almejou voos maiores, tentando ocupar um espaço central na direita e projetando sua candidatura ao governo estadual e, posteriormente, à presidência. No entanto, Dória acabou sendo abafado pelo bolsonarismo, que dominou o campo conservador de forma avassaladora, dificultando sua permanência como uma liderança de destaque.
Pablo Marçal, no entanto, parece ter condições mais favoráveis para se manter relevante nesse cenário. Ao contrário de Dória, que operava de dentro do PSDB e estava atrelado às dinâmicas internas de um partido tradicional, Marçal é um outsider que pode escolher seus movimentos com mais liberdade. Ele não precisa se comprometer com alianças partidárias duradouras e, ao mesmo tempo, consegue mobilizar um grande eleitorado por meio de suas habilidades nas redes sociais.
A ausência de uma filiação partidária sólida lhe permite negociar com qualquer legenda que ofereça as melhores condições, especialmente com o foco nas eleições de 2026. Marçal poderá ser cobiçado por partidos em busca de fortalecer suas bancadas de deputados federais e estaduais, o que também será uma estratégia importante para consolidar sua posição no cenário político.
No entanto, todo esse cenário depende de um fator crucial: Marçal precisa estar elegível. Ele ainda enfrenta a possibilidade de cassação e inelegibilidade devido à acusação de disseminar um documento falso envolvendo Guilherme Boulos. Caso ele consiga superar esse obstáculo e permanecer apto para concorrer, seu caminho para se consolidar como uma ameaça ao bolsonarismo estará aberto.
Com a liberdade para construir alianças e o capital político já demonstrado, Marçal pode ser uma pedra no sapato de Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas, trazendo consigo o potencial de desestruturar a unidade da direita. Se João Dória não conseguiu manter sua relevância em confronto direto com o bolsonarismo, Marçal, com suas habilidades digitais e uma abordagem mais flexível, tem chances de criar um novo capítulo na política conservadora brasileira.