Muitas pessoas colocam em seus currículos que possuem doutorado em Psicanálise. Mas vale lembrar que Psicanálise não é graduação e os títulos de bacharel, tecnólogo, licenciatura, mestrado e doutorado são os únicos considerados graduações. Psicanálise é uma formação com limites.

Isso é o que a especialista em educação com mais de 25 anos de atuação na Universidade Nova de Lisboa, em Portugal, Sandra Raphael, vem tentando esclarecer.

“Psicanálise é um método de investigação psíquico criado por Sigmund Freud através da exploração do inconsciente. Sua finalidade é compreender o significado das nossas ações, emoções e produções imaginárias (sonhos, fantasias e delírios)”, pontuou.

Ela mencionou que de acordo com a Sociedade Paulista de Psicanálise, para ser psicanalista é necessário possuir curso superior completo em qualquer área (pré-requisito), concluir o Curso Livre de Formação em Psicanálise (teoria e técnica), submeter-se às sessões de análise didáticas (durante o Curso e no início das atividades como psicanalista) e ser supervisionado por um psicanalista credenciado pela instituição formadora.

Ainda conforme Sandra, a principal formação dos psicanalistas era os cursos de Psicologia e Medicina. “Contudo, ao longo do tempo, profissionais provenientes de outras áreas das Ciências Humanas, como Filosofia, Sociologia, Direito, Antropologia, Letras e História têm engrossado a lista de graduados que procuram a formação em psicanálise. Lembrando que é preciso ter um tempo de estudos obrigatórios para poder realizar os cursos de psicanálise”, completou.

Muitos podem se perguntar: então, Psicanálise é graduação, especialização ou pós-graduação?

“Definitivamente, não. Nenhuma das três opções. É um curso livre e a formação é dada em institutos, sociedade ou associações.
Portanto, toda e qualquer oferta de algum tipo de titulação acadêmica em psicanálise não tem validação reconhecida pelo Ministério da Educação e pode confundir os interessados que, se não estiverem bem informados, poderão frequentar um curso longo, de até 4 ou 5 anos, que não confere qualquer tipo de grau acadêmico”, respondeu a especialista.

Teoricamente, ao término do curso, detalhou Sandra, a pessoa estará apta a fazer o atendimento de pacientes. Contudo, completou ela, o sujeito deve observar se está apto emocionalmente (com sua análise adiantada o suficiente para fazê-lo) e ainda sob a supervisão de um profissional/psicanalista mais experiente.

“A prática da psicanálise no Brasil é configurada como atividade livre que, embora legalmente reconhecida, não é regulamentada. Muitas dúvidas pairam sobre o exercício da profissão de psicanalista e sobre os requisitos necessários para sua realização.
A função do psicanalista junto ao paciente é levantar questionamentos. Isso com o objetivo de descobrir frustrações, emoções contidas, desejos reprimidos e todas as emoções que geram nós emocionais em suas vidas”, argumentou.

Ainda conforme Sandra, o método utilizado é o diálogo terapêutico denominado de associação livre.
“A trajetória de vida – e não apenas acadêmica – do terapeuta psicanalista é essencial para sua abordagem e sucesso das sessões. Há que ter uma excelente capacidade de percepção, comunicação, vivências e experiências, além de ter tido a coragem de tirar o próprio véu do autoconhecimento”, alertou.

“Além das técnicas, bem definidas e documentadas, agrega-se a componente da condução das sessões, juntamente com o indivíduo que recorre à psicanálise, e então, estão reunidas as condições para a realização da terapia. Faz-se necessário também  analisar o curriculum dos cursos e programas bem como do profissional psicanalista, verificando atentamente sua trajetória acadêmica e profissional”, concluiu.

Sobre Sandra Raphael

Sandra Raphael, Administradora de Empresas e pós-graduada em Gestão, pela Nova School of Business & Economics – Lisbon, Portugal. Master Coach certificada pela The International Association of Coaching e SLAC Sociedade Latino Americana e tem Certificação Internacional de Chief Happiness Officer. Fundadora da escola de negócios em Luanda, Angola. Palestrante, treinadora e consultora, especialista em multiculturalidade e interculturalidade. Vasta experiência nos mercados brasileiros, europeu e africano. Autora e co-autora de artigos e case studies sobre a Gestão em Ambiente Multicultural.