A pedagoga e professora da rede municipal, em Juazeiro, Aline dos Santos Almeida Souza, em uma carta enviada ao PNB, manifestou seu descontentamento em relação ao que chama de “descaso com a Educação de Juazeiro”.
Confira carta na íntegra:
Venho através desse blog fazer um desabafo, segurado durante esses CEM DIAS, injusta eu seria se não deixasse esse governo mostrar serviço. E assim se passaram CEM dias de descaso com a Educação de Juazeiro.
Sou professora concursada, e o que vi durante esses dias é assustador. Trocar de governo, alternância, faz parte da democracia, o que não faz parte e não cabe mais, é perseguição política, fazer do serviço público sua família, empregando parentes e pessoas sem capacidade apenas por defender um lado político.
Pois bem, o que vimos foi encherem a Secretaria de Educação de cargos, como também dá vez e oportunidade a volta de pessoas que anteriormente feriram a lisura do serviço público, com atos que não cabe aqui falar, mas que hoje ocupam cargos na Secretaria de Educação e nas nossas escolas.
Foram CEM DIAS de professores angustiados esperando a nova gestão mostrar pra que veio, estamos parados desde fevereiro, sem saber como será o ano letivo 2021. Muito foi falado, muito foi divulgado, porém em momento algum pararam para pensar que nós professores protagonistas da Educação de Juazeiro, estávamos até aqui esperando orientações e novidades que agregassem ao que já estávamos fazendo. Mas, não! Acharam por bem mudar toda sistemática de aulas, mudar a plataforma,mudar…mudar…mudar.. Cadê o discurso de campanha onde falavam que não se muda o que vêm dando certo, como era o caso da Educação.
Quero lembrar aos senhores, que a Educação da rede municipal de ensino de Juazeiro é referência para muitas cidades do Brasil, mérito da gestão que passou? Não somente! Mérito dos professores, gestores, formadores, equipe técnica, funcionários da escola e alunos.
Será que voltamos ao tempo de quem entra muda tudo? Senhores, não se muda o que vinha dando certo! Estávamos nos adaptando a um Portal que tivemos que conviver, quando eu digo estávamos, coloco também os alunos e pais.
Tivemos que nos adaptar ao momento da Pandemia, aulas gravadas pela equipe de formação em Studio, atividades no Portal da Educação, grupos de whatsapp com os pais e alunos, entrega de blocos de atividades nas residências, e até mesmo chegamos a nos arriscar atendendo alunos individualmente. Tudo isso pra tentar garantir aquilo que nos foi dado a missão, de levar conhecimento aos nossos alunos. Foi fácil? Não! Mas, nos sentimos abraçados pela equipe, pelos pais, pela Seduc. Ao contrário do que vêm sendo feito agora, as coisas estão vindo desorganizadas, de última hora.
Estamos em Abril, e agora querem que nós professores e alunos acessem a uma plataforma complexa, com nossa internet, com nosso aparelho de celular, com aulas ao vivo diariamente. Não tivemos formação suficiente para nos tornar expert em tecnologia, nem equipamentos necessários nós temos. Pergunto então: se eu professora estou tendo dificuldade com a minha internet, e o celular que possuo, imagina nossos alunos?
Vocês acham que um pai que tem três filhos ou mais vai conseguir acompanhar diariamente essas aulas? O que será proposto para esse pai? Vão dar computadores, tablets, celulares? E o tal módulo que ia ser entregue para compensar os dias do ano passado onde foi parar? Parem para pensar, que essa proposta não cabe no nosso bolso, está fora da nossa realidade. Eu professor vou dar conta de gravar, editar, e utilizar todas as ferramentas do Portal sem ter esse apoio tecnológico em nossas escolas? Essa é uma angústia de muitos colegas, está tudo muito solto, muito perdido, uma hora é uma coisa, outra hora já mudou, e as aulas começaram. E agora?
Até que ponto eu sou obrigada a usar meu celular para o trabalho? Até que ponto sou obrigada a usar a minha internet? Até que ponto sou obrigada a usar as horas com minha família para estar respondendo pais, ou até mesmo planejando aulas? Somos humanos! Precisam se colocar no nosso lugar. Será que pra eu dar aula em casa diariamente, vou precisar expulsar filhos, cachorro, e papagaio de casa para ter um ambiente necessário para dar aula?
E não adianta se vangloriar em dizer que aderimos ao Programa do Governo Federal Educação Conectada, pois não foi feito essa adesão agora, ela foi feita ano passado, inclusive o recurso está nas contas das escolas contempladas, porém não foi usado por conta das muitas incertezas que havia no momento que não havia aula nas escolas, e nem professores nas escolas já que o trabalho havia ficado home office.
Ouvi o discurso da secretária de educação onde a mesma dizia que a prioridade seria pensar em Políticas Públicas.
Senhora, não se pensa em políticas públicas desconsiderando o que foi construído. Não se pensa em políticas públicas governando de cima para baixo. Não se pensa em políticas públicas empregando pessoas por politicagem.
Não se pensa em políticas públicas perseguindo pessoas que sugerem ou que tiveram posicionamentos políticos diferentes. Ou será que políticas públicas para vocês é sair pintando tudo de verde, gastando dinheiro sem necessidade, tendo em vista que as fachadas das escolas e a própria Secretaria de Educação foi pintada a tão pouco tempo. Será que não havia algo importante para se pensar em gastar dinheiro?
Já direitos nossos não querem nos pagar, assim como eu já muitos colegas que já solicitaram os pagamentos da VPNI, que é direito adquirido nosso, e nos negam pagar. Até que ponto estão pensando em Políticas públicas?
Quero que saibam que estamos de olho em nossos direitos e tudo que conquistamos com luta, não nos será tirado.
O que vocês têm feito é desrespeitado os profissionais que fazem funcionar brilhantemente a educação de Juazeiro.
É triste ver nossos colegas contratados zerando seleção, quando sabemos que os mesmos têm experiência comprovada, títulos e cursos apresentados. Isso só foi mais uma prova de que voltamos ao tempo de quem indica. Começamos o ano letivo sem professores nas escolas. Começamos o ano letivo com muitas angústias e desorganização.
Gente! Trabalhar com educação, formar crianças, ensinar, não pode ser qualquer pessoa, têm que ter no mínimo uma boa formação acadêmica. O que será dos nossos alunos? Tanta gente entrando nas nossas escolas sem critérios? Melhor dizendo, o critério é puramente politiqueiro.
Precisamos nos atentar que a ESCOLA PÚBLICA precisa continuar sendo pública e de qualidade. Os pais não podem pagar mensalidade rateada em internet e celulares para os alunos.
Termino aqui, que estou há CEM DIAS decepcionada com o rumo da Educação de Juazeiro. Autoridades precisam abrir bem os olhos para fiscalizar.
Aline dos Santos Almeida Souza
Pedagoga/professora – Seduc/Juá