Na obra “Déspotas mirins, o poder nas novas famílias”, a psicanalista Marcia Neder analisa a queda do poder patriarcal e as atuais construções familiares
Por que a sociedade atribui às mulheres e às mães a responsabilidade pelas crianças sem limites que infernizam a vida de professores e o convívio sociofamiliar? Esse foi o questionamento que inspirou a tese de pós-doutorado da psicanalista Marcia Neder. O resultado virou livro: a segunda edição de Déspotas mirins, o poder nas novas famílias, lançamento da Editora Metamorfose.
Segundo Marcia, vivemos uma “pedocracia”, nome que ela criou para a era do poder infantil, modelo caracterizado pela vida em família que gira em torno da criança desde a gravidez. De acordo com a escritora, o fim do patriarcado deu mais poder para os pequenos – e não para as mulheres. Como são elas as responsáveis pelos cuidados e educação dos filhos, também tornam-se as mais submetidas a esses novos tiranos.
Outro ponto explorado pela psicanalista são as novas famílias, famílias modernas ou a família brasileira. A “família tradicional”, formada por papai, mamãe e filhos, patriarcal e aparentemente coesa, foi implodida pela modernidade. Hoje, enteados, sogros, meio-irmãos e avós fazem parte dos núcleos familiares, construção que ainda não se adequou para educar.
“O namorado da minha mãe, a avó do meu irmão, o filho do marido da minha mãe, o pai da minha irmã, a mulher do meu pai, a mulher do pai do meu irmão são personagens cada vez mais frequentes no cotidiano das crianças.”
Ao avançar nas investigações sobre a mulher e o feminino no imaginário da cultura e de suas instituições, Marcia Neder aprofunda as críticas à herança patriarcal da psicanálise e à misoginia da cultura. A função paterna, que faz do poder uma prerrogativa dos homens, concebe o masculino como separado da sensibilidade – esta que seria atributo exclusivo do feminino um ser naturalmente encarregado dos cuidados da “sua” prole.
Além da obra, Marcia é autora de outras produções como “Os Filhos da Mãe: como viver a maternidade sem culpa e sem o mito da perfeição”, que desmistifica a maternidade e mostra o preço que as mulheres pagam por essa idealização.