Foto: Arquivo/Agência Brasil

Por Richard Vasconcelos

A cena é corriqueira em todos os níveis de educação: basta o mestre dar as costas para que os pupilos apressadamente encontrem uma maneira engenhosa de dar aquela espiadinha no celular. Quem nunca? Dia após dia, o desafio humano de transmissão de conhecimento tem disputado atenção com estímulos tecnológicos que se aperfeiçoam velozmente, gerando um antagonismo no mínimo exaustivo para quem leciona, e um tédio cada vez mais insuportável para quem, supostamente, aprende. Seria o fim do professor tal e qual o conhecemos hoje?

Um estudo apresentado no início deste ano pelo Laboratório de Aprendizado de Máquina em Finanças e Organizações da UnB (Universidade de Brasília) apontou que 54% dos empregos formais no Brasil devem ser substituídos por máquinas até 2026. Se, neste panorama, a profissão de professor não figurou entre as mais prováveis de caírem por terra, tampouco constou entre os ofícios menos suscetíveis à automação nos próximos anos. Eis uma incógnita.

Já em 2017, o especialista em educação Anthony Seldon, dividia a plateia do British Science Festival ao afirmar com veemência que robôs começariam a substituir os professores dali a, no máximo, dez anos. A possibilidade de uso da inteligência artificial orientada a processos otimizados de aprendizagem era o combustível da polêmica.

Ao entrar em algumas salas de aula, podemos considerar que alguns professores já são robôs! Eles lecionam a sua aula apenas lendo os seus slides de PowerPoint ou gastam a maior parte do seu tempo falando e escrevendo na lousa, sem interagir com o aluno. O foco desse professor-robô está na transmissão do conhecimento, sem se preocupar com o processo de aprendizagem do seu aluno. Será que esse professor poderia ser substituído por um robô?

 

 

 

No entanto, o fato é que são mínimas as chances de abrirmos a porta de uma sala e nos depararmos com um robô à la Jetsons ordenando aos alunos que abram seus livros, repetindo textos em voz alta ou corrigindo provas após as 22h. Porém, já no tempo presente, não podemos ignorar que existe sim uma revolução acontecendo nas salas de aula. A combinação de aplicativos que medem performance em simulados se tornou um hit nos cursinhos, e os Edutubers (professores que dão aula no Youtube) são a tábua de salvação de quem passou a aula toda conversando via Whatsapp.

 

 

 

É que a sala de aula convencional carrega em seu formato quase um século de defasagem. Igualmente defasados estão nossos modos de ensinar e aprender. Paralelamente, a revolução digital disparou questionamentos profundos diante do que é necessário estudar agora para conseguir entrar no mercado de trabalho em pouquíssimos anos. E é este formato intransponível que está em vias de falência.

 

 

 

De volta ao professor, é inegável o potencial de adaptação desse profissional que, até aqui, provou-se socialmente indispensável nos mais diversos contextos. Ao longo da história e nos diversos países do mundo, professores ensinaram entre estilhaços de guerra, alfabetizaram sobre a areia dos rios africanos, somaram e multiplicaram diante das condições mais adversas.

 

 

 

Na corrida contemporânea, mais uma adaptação urgente e brusca se anuncia necessária. A transformação é inevitável e cada vez mais urgente. Entre o professor e o robô, deve surgir um facilitador apto a mover a ênfase do ensino (entrega de conteúdo) à aprendizagem (compreensão e construção de conhecimento). A tecnologia, principalmente o celular, deve ser visto como um aliado à aprendizagem que permite acessar conteúdos externos e usar ferramentas de discussão e colaboração dentro da sala de aula. O foco do professor deve ser cada vez menos a memorização e cada vez mais o desenvolvimento de habilidades comportamentais como pensamento crítico, criatividade, comunicação, negociação, dentre outras. Desta forma, o professor jamais será substituído por um robô.

 

 

 

*Richard Vasconcelos é especialista em tecnologias educacionais e CEO da LEO Learning Brasil