Por Prof. Dr. Mario Louzã, médico psiquiatra e psicanalista. Doutor em Medicina pela Universidade de Würzburg, Alemanha. (CRMSP 34330)

Hoje é dia do psiquiatra. Mas com tantas modalidades de terapia, você saberia explicar as diferenças entre psiquiatria, psicologia, psicoterapia e psicanálise? A não ser que você seja um profissional da área, é bem provável que desconheça suas singularidades.

Para quem precisa de um tratamento na área de saúde mental, ou mesmo seguir a carreira, é importante entender cada um deles para escolher o mais adequado às suas necessidades (se for paciente) ou ao seu perfil profissional (se for estudante ou profissional recém-formado em busca de uma especialização).

Tanto a Psicologia como a Psiquiatria (as duas estão dentro do âmbito da Medicina) são profissões regulamentadas no Brasil, com seus respectivos Conselhos Federais e Regionais, os quais estabelecem as normas éticas e de atuação profissional. Já as psicoterapias, entre elas, a psicanálise, não têm legislação específica no Brasil. No entanto, tanto o ‘psicoterapeuta’ quanto o ‘psicanalista’ estão incluídos na Classificação Brasileira de Ocupações, do Ministério do Trabalho.

PSIQUIATRIA: A Psiquiatria é uma especialidade médica focada no diagnóstico e tratamento de transtornos mentais. Para se tornar Psiquiatra, a pessoa precisa primeiro cursar a Faculdade de Medicina, que tem duração de 6 anos. Já formado, é preciso fazer Residência Médica em Psiquiatria, que dura, geralmente, de 3 a 4 anos.

Após a Residência, a pessoa fará as provas para obtenção do título de Especialista em Psiquiatria. Este título envolve, principalmente, a Psiquiatria de Adultos. Dentro da Psiquiatria, há algumas sub-especialidades: Psiquiatria da Infância e Adolescência, Psiquiatria Forense, Psiquiatria Geriátrica, entre outras.

O Psiquiatra, como já dito, é o responsável pelo diagnóstico e tratamento de doenças mentais. Por ser médico, ele pode prescrever medicamentos psicofármacos, como ansiolíticos, antidepressivos ou antipsicóticos. Estas medicações atuam no sistema nervoso central, alterando o modo como os neurotransmissores funcionam, seja aumentando sua atuação, seja diminuindo, conforme o tipo de psicofármaco. Os transtornos mentais, falando de um modo muito simples, decorrem de um desequilíbrio químico do cérebro, e os medicamentos procuram restabelecer esse equilíbrio.

PSICOLOGIA: A Psicologia estuda diversos aspectos da mente humana “normal” ou sadia, no contexto individual ou de um grupo e também no diagnóstico e tratamento de problemas emocionais e do comportamento. Para se formar Psicólogo, a pessoa deve cursar a Faculdade de Psicologia, com duração de cerca de 5 anos. Uma vez formado, o Psicólogo pode se especializar em diferentes áreas de atuação, como educacional, recursos humanos, hospitalar, neuropsicologia, psicoterapia entre outras.

O Psicólogo é o responsável pela aplicação de avaliação psicológica e neuropsicológica e pode atuar como psicoterapeuta. Diferentemente do Psiquiatra, ele não pode prescrever medicações. A prescrição de remédios só pode ser realizada por quem se formou em Medicina. No entanto, ambos podem fazer uma especialização na área de Psicoterapia.

PSICOTERAPIA: A Psicoterapia é um método que utiliza principalmente a fala e o diálogo. O intuito é auxiliar um indivíduo a compreender a si mesmo e a lidar melhor com seus problemas e dificuldades, que podem ser decorrentes de um transtorno mental leve (ansiedade ou fobias) ou decorrentes de situações que fazem parte da vida de todos (separação ou morte), mas que o paciente tem uma dificuldade maior de compreensão e aceitação ou ainda de características da personalidade que prejudicam a pessoa e sua integração emocional e social.

Para estes problemas, há diversas teorias e técnicas de Psicoterapia. As mais conhecidas são a Psicanálise, a Terapia Cognitivo Comportamental, o Psicodrama e a Terapia Junguiana, entre outras. Cada uma possui diferentes formas para auxiliar o indivíduo a superar suas dificuldades, a partir da teoria que as constitui e respectivas técnicas de abordagem.

É importante lembrar que o tratamento medicamentoso e o psicoterápico não são mutuamente excludentes. Na imensa maioria dos casos, a somatória do tratamento medicamentoso e psicoterápico produz um melhor resultado para o indivíduo.

PSICANÁLISE: A Psicanálise é um tipo de Psicoterapia. Exige uma formação especializada, em geral, de 5 a 10 anos, em Sociedades de Psicanálise (de preferência, vinculadas a International Psychoanalytical Association – IPA –, criada pelo próprio Freud e colaboradores, em 1910). Tendo essa formação, tanto o Psiquiatra quanto o Psicólogo podem fazer atendimentos usando a teoria e a técnica psicanalíticas.

Embora o senso comum possa auxiliar, nem sempre ele funciona bem, pois muitas vezes ele se baseia em premissas falsas. Uma delas é a ideia de que transtornos mentais não têm uma base física, cerebral. Um quadro depressivo pode ser, por exemplo, consequência de um desequilíbrio da tireoide.

Se não for investigada por um Psiquiatra, esta alteração da tireoide não será detectada, e o paciente não se beneficiará de um tratamento psicoterápico. A avaliação médica é sempre importante para exclusão de doenças físicas que causam sintomas mentais. A partir de um diagnóstico preciso, fica mais fácil conduzir a terapêutica, seja medicamentosa, seja psicoterápica.