“Estamos a praticamente 15 meses que os petrolinenses irão, novamente, às urnas escolher o Prefeito Municipal que guiará os destinos do município no período de 2021 a 2024. De um total de 48 meses de governo, o tempo já tragou 31, restando cerca de 35% do mandato para a abertura das urnas.

É dentro desse cenário que atua a classe política. Apesar de parecer distante todas as forças políticas já iniciaram suas andanças e arregimentação de cabos eleitorais, participação em cafés da manhã, visitas aos bairros e, realizar, como diz o ditado popular: “correr trecho”.

O ingrediente novo na sucessão municipal é a possibilidade da eleição ser realizada em 02 turnos, já que Petrolina ultrapassou a casa dos 200 mil eleitores. Esse novo ambiente muda toda a estratégia dos grupos políticos tradicionais que conduziram o processo político-eleitoral até aqui. Uma eleição em 02 turnos exige uma estratégia diferente, interlocução, diálogo em face da pulverização de nomes potenciais que a política local produziu ao longo dos últimos anos.

O espaço político e de poder em Petrolina nunca esteve tão pulverizado como nos dias atuais. Aqui, o crescimento demográfico, econômico e a instalação de universidades, faculdades, órgãos públicos dos mais variados produziram uma gama de potenciais candidatos que passam a, cada vez mais, questionar o poder tradicional, algo bastante comum nas cidades e Estados que viveram décadas sob o manto de grupos políticos tradicionais como os ACMs, Sarneys, Agripinos, Maias, Alves, Rosado, Cunha Lima, etc.

Nesse ambiente, o atual prefeito Miguel Coelho, pela condição de estar sentado na cadeira do Palácio Guararapes, possui a vantagem de dar a dinâmica da eleição, porém deverá disputar com dois ex-prefeitos e um Deputado Estadual: Odacy Amorim, Júlio Lóssio e Lucas Ramos. Fato que, a princípio, demonstra que viveremos fortíssimas emoções e um processo eleitoral tenso pelo fato de estar em jogo a tradição de mais de 80 anos da Família Coelho em Petrolina.

Para aumentar o caldeirão eleitoral ainda temos 02 vereadores com potencial de candidaturas, que seriam a Cristina Costa e Gabriel Menezes, e outros nomes que correm por fora como: Lucinha Mota, Adalberto Cavalcante, Guilherme Coelho e ainda as candidaturas praticamente certas do PSOL e do Partido Novo.

Na eleição de 2016 tivemos 05 candidaturas. Em 2020, em virtude da cláusula de barreira em vigor e mudança no regime de coligações, torna-se provável termos uma pulverização de candidaturas e avaliamos entre 06 a 09 potenciais candidatos, de todas as matizes políticas.

Dentro desse cenário torna-se praticamente impossível para o atual Prefeito Miguel Coelho arrebatar no 1° turno a eleição, já que para isso seu governo precisará estar dentro de um arco de forças e alianças consistente e também de resultados de gestão que sirvam como polo aglutinador das forças políticas, além das atuais que não lhe garantem, a princípio, uma vitória em 1º turno.

O Prefeito Miguel Coelho já sinalizou para seus correligionários que a disputa será uma “largada de 100 metros rasos sem barreiras” que, a 14 meses antes, já está anunciando que ganhará a eleição no 1º turno. Esse poderá estar sendo seu primeiro erro estratégico porque, além de existir um espaço temporal significativo até o dia da eleição, mostra uma subestimação prepotente sobre os adversários e, caso não se concretize a vitória no 1º turno, o Prefeito Miguel Coelho já iniciará a campanha para o segundo turno tendo que explicar a “derrota” para seus correligionários e para a militância.

Nunca é demais lembrar que a “lógica” do marketing político do Grupo FBC sempre foi de dar a dinâmica do debate político local, buscando mostrar sua força e indestrutibilidade a todo custo. É como se seguisse um mantra: EU QUERO; EU POSSO; EU MANDO e EU FAÇO.

O ambiente atual evidencia que os prefeitos eleitos em 2016, em virtude da crise econômica, têm sido em sua maioria muito mais gerenciadores de crise do que construtores dos sonhos e encantos vendidos aos eleitores durante a campanha. Assim, aliados e potenciais aliados avaliam que é melhor esperar o cenário do 1° semestre de 2020 do que já bater martelo agora, diante de tanta incerteza.

É dentro desse ambiente que jogam as pré-candidaturas de Odacy Amorim, Júlio Lóssio e Lucas Ramos (para ficar nas principais). Cada um possui sua própria narrativa, sua estratégia e suas condições.

O pré-candidato Odacy Amorim (PT) vem com o argumento fortíssimo de que foi ex-Prefeito, Deputado Estadual e em 2018 foi o Deputado Federal mais votado em Petrolina, superando a votação de Fernando Filho, Gonzaga Patriota e Adalberto Cavalcanti. Esse resultado de 2018 evidencia claramente que o candidato possui um “recall” elevado das últimas disputas e do tempo que foi Prefeito, inclusive chegando a eleger em 2018 a sua esposa Deputada Estadual. O candidato enfrenta disputas internas no PT, algo que de certa forma já se naturalizou dentro do partido, mas que ao final, na maioria da vezes, chega-se a um denominador comum.

Já o pré-candidato Júlio Lóssio apresenta aspectos positivos e fatores negativos que exigirão um trabalho ao longo do percurso pelo fato de não ter conseguido montar um time robusto de vereadores que fizessem a defesa do seu governo e das suas pautas. A candidatura ao Governo do Estado em 2018 boa parte do eleitorado petrolinense entende que foi um salto maior que as pernas e a não eleição da sua esposa para Deputada Estadual em virtude do quociente eleitoral acabou por lhe trazer dificuldades perante o eleitorado reforçando a narrativa acima. Assim, o desafio de Júlio Lóssio é resgatar sua agenda social e rememorar claramente para o eleitorado a sua capacidade de realização.

Quando olhamos para a Pré-Candidatura do Deputado Lucas Ramos fica claro que o maior desafio é construir dentro do seu próprio partido as condições necessárias para a disputa, como também, evidenciar de forma clara a disposição de enfrentar o desafio, construir uma narrativa, um projeto e sincronizar como seria essa relação entre o Governo de Pernambuco e Petrolina já que o mesmo passou a ser seu principal interlocutor.

Um outro fator a ser levado em consideração é que ainda não é possível medir a dimensão da raiva e frustração que o eleitor terá no momento do seu encontro com a urna em face das relações existentes de cada candidato e o cenário nacional representado pelo governo Bolsonaro e seu sucesso e/ou insucesso.

Vale salientar que em Petrolina o Prefeito Miguel Coelho recebeu o Presidente Bolsonaro, apesar de enormes queixas de sua assessoria, que entendia que colar sua imagem a do Presidente poderá ser cobrada a fatura lá na frente pelo eleitorado local que não chancelou seu nome, como também pelos eleitores que se sentem traídos pelas promessas e estilo de governar do Presidente que ainda carece de comprovação.  Cabe observar que o Governo Bolsonaro pode dar uma guinada e alavancar patamares de aprovação e realização de ações significativas no governo e sobretudo na região, o que poderá vir a beneficiar o Prefeito Miguel Coelho na intenção de voto.

Ademais, essa eleição será a 1ª na história de Pernambuco que o governador do Estado, Paulo Câmara, tenderá a buscar influenciar diretamente no resultado, já que a disputa de Prefeito de 2020 em Petrolina poderá fortalecer ou enfraquecer os “Coelhos” para uma possível disputa ao governo estadual em 2022. Ademais, também teremos em 2022 a disputa da vaga do Senador Fernando Bezerra Coelho (encerra o mandato), que poderá ir para a reeleição ou disputar o Governo do Estado para realizar seu grande sonho de sentar na cadeira principal do Palácio Campo das Princesas. Na impossibilidade de disputar o Governo de Pernambuco só restará ao Senador FBC a disputa de Senador e tenderá a ser justamente contra o atual Governador Paulo Câmara. Será uma disputa de fortes emoções em Petrolina caso venha a acontecer.  Quando tocado no assunto com seus correligionários os mesmos sinalizam que o atual Senador poderia ter a alternativa de disputar uma vaga de Deputado Federal, algo que traria enormes embaraços ao grupo devido a potenciais disputas internas e a condução política futura do grupo.

É nesse ambiente que a responsabilidade da reeleição de Miguel Coelho torna-se extremamente elevada em face do “day after” (dia seguinte) de uma derrota, que acarretaria uma completa desestruturação do “Clã Coelho” e colocaria em risco a trajetória de décadas do “Clã” na política local, cujo declínio virá naturalmente como ocorreu/ocorre com todos os outros grupos tradicionais, mas poderemos ainda ter uma prorrogação”.

GERALDO F. S. JUNIOR
Bacharel e Mestre em Economia/UFPB
Ex-Professor de Economia Política