A enorme força política e eleitoral, que tornou possível a vitória de Bolsonaro nas últimas eleições, apresenta sinais de rápido esgarçamento no início do seu mandato. Crises sucessivas na substituição de ministros e na relação com o Congresso Nacional, uma economia em frangalhos e as manifestações de rua, expressam bem as dificuldades que o governo enfrenta.

As evidentes insuficiências na condução política do governo fazem com que Bolsonaro acumule derrotas no Congresso Nacional. A desconfiguração do chamado pacote anticrime apresentado pelo ministro da Justiça Sergio Moro, especialmente a retirada do Coaf de seu controle, assim como o relatório da reforma da Previdência apresentado, que modifica a proposta original do governo e acata várias sugestões da oposição, são sinais claros desta fragilidade. Bolsonaro e alguns de seus ministros, de forma pouco hábil, conseguiram criar um ambiente de maior unidade entre os parlamentares, que tem contido o ímpeto autoritário do presidente e o derrotado em certas matérias.

No Senado, Bolsonaro viu o decreto que flexibilizava as regras para o porte de armas ser derrotado por 47 a 28 votos. Lembremos que esta era uma das principais propostas de campanha do então candidato. O presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) já disse que na Câmara o decreto também sofrerá grandes resistências. Além da lúcida decisão do Senado sobre o mérito do decreto, a votação também foi um recado de que o Senado não será submisso ao governo, apenas homologando decretos e outras medidas presidenciais.

Na montagem de seu governo, Bolsonaro também coleciona reveses, até agora dezenove quadros do alto escalão do governo foram trocados, entre ministros, presidentes de bancos públicos e outros órgãos ligados à administração federal. A demissão do general Carlos Alberto dos Santos Cruz da chefia da Secretaria de Governo e a nomeação do general Luís Eduardo Ramos para o seu lugar, estremecem ainda mais as relações do núcleo familiar e “olavista” com as Forças Armadas, criando mais um passivo numa área que o apoiou integralmente.

No campo econômico, o PIB despenca a cada projeção do Banco Central e poderá ficar negativo em 2019, muito abaixo da falsa promessa de Paulo Guedes e de Bolsonaro de um PIB de 2,4% para este ano. A indústria não dá sinais de reanimação e o desemprego está em alta, com mais de 13 milhões de pessoas nessa situação. A ortodoxia financeira defendida pelo governo vai aprofundar a crise econômica e essa é uma das razões pela qual a queda de popularidade de Bolsonaro tem sido acentuada.

Por outro lado, as ruas estão em sintonia com a crescente rejeição ao governo. Os atos contra os cortes na educação e a reforma da Previdência foram exitosos. As manifestações dos dias 15 e 30 de maio e a greve geral de 14 de junho adotaram bandeiras amplas, com reinvindicações justas. Os vazamentos do site Intercept Brasil, envolvendo a operação “Lava Jato” e o ministro Sérgio Moro, ajudaram a potencializar o desgaste do governo. No caso da educação, as manifestações tiveram resultados concretos e o governo perdeu mais uma vez, tendo que recuar em suas posições e anunciar o descontingenciamento previsto para as universidades e IFET´s.

As primeiras derrotas do governo do presidente Jair Bolsonaro evidenciam que sem diálogo e respeito às instituições não é possível governar em uma democracia. As bravatas eleitoreiras ditas para ganhar as eleições carecem de viabilidade constitucional, votos de parlamentares, escutas aos conselhos e entidades da sociedade civil. A democracia é um regime difícil de ser exercido e cobra um preço alto daqueles governantes que a desprezam. ( Fonte/ Hoje em Dia).