Pesquisa mostra que, para 57%, data não tem que ser comemorada; 36% afirmam que ela merece celebração, como defendeu Bolsonaro

José Marques – Folha de S.Paulo

A comemoração da data que marcou o início da ditadura militar no Brasil, incentivada pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) no mês passado, não tem o apoio da maioria da população, aponta pesquisa Datafolha.

Para a maior parte das pessoas, o dia 31 de março de 1964, data do golpe que levou o país a um período de exceção de 21 anos, deve ser desprezado.

Essa é a opinião de 57% dos 2.086 entrevistados pelo instituto entre terça (2) e quarta (3). A parcela dos que acham o contrário, que a data merece comemorações, é de 36% dos brasileiros. Outros 7% não souberam responder ou não quiseram opinar sobre o tema.

As polêmicas a respeito do aniversário de 55 anos do golpe começaram no último dia 25, quando o porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros, afirmou que Bolsonaro havia determinado ao Ministério da Defesa as “comemorações devidas”, em quartéis, do dia 31 de março.

A orientação foi inédita nas últimas duas décadas, desde a criação da pasta, e levou a Defensoria Pública da União e tentar barrá-la na Justiça.

Na pesquisa Datafolha, o desprezo à data do golpe tem maior apoio entre os estratos mais jovens, mais escolarizados e mais ricos da população.

Entre as pessoas de 16 a 24 anos, 64% são contrários à comemoração da data. A porcentagem chega a 67% entre quem tem ensino superior e a 72% entre pessoas com renda familiar mensal superior a dez salários mínimos.

Do outro lado, foram favoráveis à celebração do golpe 42% das pessoas com mais de 60 anos, 43% dos que têm ensino fundamental e 39% dos que têm renda mensal familiar de até dois salários mínimos.

Ainda assim, em todos os estratos de idade, escolaridade e renda, a maioria refuta a celebração do golpe de 1964.

O Datafolha fez entrevistas em 130 municípios em todo o Brasil. A margem de erro máxima é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o nível de confiança (que é a chance de a pesquisa retratar a realidade) é de 95%.

Outro recorte sobre o levantamento do instituto mostra que a maioria dos evangélicos —uma das bases eleitorais de Bolsonaro— também rejeita as comemorações relativas ao início da ditadura militar.

Considerando todos os segmentos evangélicos, 53% acham que 31 de março deve ser desprezado e 39%, comemorado. Os neopentecostais são os que mais apontam o desprezo sobre as celebrações, com percentual de 65%.

Pessoas de outras religiões, como católicos (56% a 38%), espíritas (59% a 32%) e adeptos de religiões afro-brasileiras (73% a 24%), também se manifestaram majoritariamente contra a comemoração. Quem não tem religião ou é agnóstico segue o mesmo padrão: 73% a 23%.

Por outro lado, a maioria das pessoas que dizem ter preferência partidária pelo PSL e pelo MDB (este último o partido que se originou como oposição ao regime) defendem as comemorações —com 61% e 64%, respectivamente.

Isso também vale para as pessoas que declararam terem votado no presidente Jair Bolsonaro nas eleições do ano passado. A disputa, no entanto, é apertada: 49% deles acham que a data deve ser comemorada e 43%, desprezada.

Leia reportagem na íntegra clicando ao lado: Para maioria da população, golpe de 1964 deveria ser desprezado