Discordo da tese do presidente Jair Bolsonaro de que a corrupção é filha do presidencialismo de coalizão e que Michel Temer foi preso por causa dessa tal governabilidade. Os políticos vão presos por causa dos seus malfeitos, independente do sistema de governo. No Brasil, nunca vi tamanho ataque de um chefe do Poder Executivo ao Congresso Nacional. O capitão deveria saber que, exceto nas ditaduras, ninguém governa sem o apoio do Legislativo. Vou relembrar um episódio recente da política brasileira. No governo da presidente Dilma, por exemplo, os articuladores do impeachment começaram a elaborar o Ministério de Temer com muita antecedência.
Tinham certeza da vitória e sabiam que precisavam entregar ao mercado os compromissos elencados no documento ‘Uma ponte para o futuro’. Fizeram isso com maestria política. Conheciam as dores e os sorrisos de cada parlamentar do Congresso Nacional. Fundaram um condomínio de poder, onde os partidos PMDB, PSDB, PP, PR, PSD, PRB e DEM tinham um ministério para chamar de seu. Aos menores partidos ofereceram cargos nos segundo e terceiro escalão. Fiz oposição ao governo Temer, porém seria leviano de minha parte não reconhecer que Temer fundou o verdadeiro presidencialismo de coalizão. Em função disso, aprovou a reforma trabalhista e teria aprovado a reforma da previdência se não tivesse ocorrido o escândalo da JBS. Mais uma vez estamos tentando aprovar a reforma da previdência. Dessa vez , temos um presidente que se elegeu negando a política, um presidente que como deputado federal votou contra a reforma da previdência, que escalou um ministério onde parte dos ministros também criminaliza a política, um presidente que continua fazendo campanha e que usa as redes sociais como um dos pilares da sua gestão. Quem conhece um pouco do Congresso Nacional sabe que com esse enredo a reforma da previdência é natimorta.
Reconheço a competência de Jair Bolsonaro, líder da oposição ao governo Bolsonaro. Já conseguiu derrotar a reforma da previdência e daqui a pouco tempo vai conseguir derrubar o governo. Sugiro ao presidente Bolsonaro que envie um zap ou Twitter para os ex-presidentes Fernando Color e Dilma Rousseff. Eles sabem o caminho das pedras.
Silvio Costa
Professor e ex-deputado federal por Pernambuco