Por, Geraldo F. S. Junior
Bacharel e Mestre em Ciências Econômicas – UFPB/UFCG
Desde 2008 quando eclode a crise do Subprime no mercado imobiliário nos EUA que o sistema econômico global vem mostrando seus efeitos colaterais de forma mais intensa, tanto na própria esfera econômica e política quanto na esfera da estruturação e funcionamento dos governos e Estados nacionais.
A crise do Subprime foi resultado de uma completa desregulamentação do sistema financeiro americano, que iniciou ainda no governo Richard Nixon ao promover uma quebra no padrão monetário do ouro-dólar, resultado do tratado de Breton Woods em 1944, como desenlace para o fim da 2ª guerra mundial.
Essa desvinculação do ouro-dólar resultou numa maior liberalidade na emissão monetária do dólar e desregulamentação do sistema financeiro americano, que assume seus contornos dramáticos em 2008, quando a bolha imobiliária e financeira não mais sendo possível administrar seus efeitos colaterais explode, provocando efeitos danosos na economia mundial, levando uma onda de crises econômicas e políticas a variados países, sobretudo na Europa e América Latina.
Esse fenômeno terá consequências políticas tanto na esfera interna dos EUA quanto no ambiente externo, sobretudo nas economias mais dependentes e vinculados à economia americana. No ambiente interno, os EUA em 2008 impõem uma enorme derrota ao então presidente George Bush Filho, elegendo um negro, descendente de africano como seu 1º presidente. Com um olhar mais intervencionista na economia e com ideias políticas mais vinculadas ao Welfare State (Estado de Bem Estar Social), a aposta dos americanos em OBAMA o conduziu a reeleição em 2012, mas não possibilitou que o mesmo, oito anos depois, fizesse a sucessão que ele indicara, no caso a sua então candidata à presidência, a senadora Hillary Clinton, perde para o republicano Donald Trump.
A eleição de Trump possui fenômenos sociológicos, políticos e econômicos que evidenciam claramente a crise do modelo americano em um novo ambiente de concorrência global e multipolar. A derrota da Hillary Clinton evidenciou que o eleitorado americano foi, num intervalo de menos de uma década, de um presidente com viés socialdemocrata para um ultraliberal. Isso denota claramente uma sociedade em crise em todos os aspectos, sobretudo moral, porque os elementos que a conduziram ao resultado que saiu das urnas sinalizavam que os americanos queriam uma solução não importa a “roupagem”.
A eleição de Trump representou a escolha dos americanos por uma postura mais conservadora na perspectiva de tentar enfrentar a crise que advém da estrutura do funcionamento do sistema econômico americano no que se refere a competitividade global, inovação tecnológica e hegemonia, diante do novo ambiente econômico global, já que a China vem sinalizando que dominará o novo ciclo econômico de longo prazo que se aproxima.
Os ciclos econômicos é algo bastante estudado na economia por vários autores como Marx, Mandel, Schumpeter, Keynes, Kondratiev, Juglar entre outros nos últimos 150 anos. A própria história do sistema econômico capitalista evidencia de forma clara que estamos numa fase de fim de ciclo econômico americano, como já tivemos o genovês, holandês e Inglês na visão de Giovanni Arrighi.
Esse momento que o sistema econômico adentra não será um momento fácil, porque as transições de hegemonia e poder são sempre momentos de tensões e guerras. A pergunta que fica é: será que teremos uma transição de hegemonia pacífica?
Assim, os elementos necessários de reflexão buscam mostrar que os fatos políticos internos no Brasil e atualmente na Venezuela não são fatos isolados, mas são operados dentro de uma lógica que visa suplantar uma crise de hegemonia existente que faz parte da própria natureza do sistema econômico vigente. A crise de hegemonia se apresenta de forma mais perversa como crise econômica. Ou seja, a capacidade do sistema econômico manter ou ampliar sua capacidade de valorização e reprodução do capital em escala global.
Ademais, vale salientar que esse cenário atual se apresenta diferente de todos os outros momentos devido a dois fatores. Um primeiro se dá sobre a dinâmica e a dimensão das inovações tecnológicas que tem como matriz a automação e a microeletrônica; e segundo, um descolamento cada vez maior entre a esfera financeira da valorização do capital e sua esfera produtiva, sinalizando cada vez mais crises financeiras mais frequentes e abruptas a medida que o sistema econômico torna-se a cada dia mais frágil.
Esses dois ingredientes, juntos e misturados, mostram um ambiente econômico e social de médio prazo extremamente complexo porque o primeiro promoverá uma enorme substituição do homem pela máquina na esfera do trabalho, ampliando significativamente o volume de mão de obra desempregada, o chamado desemprego estrutural, e o segundo impõe a cada dia uma distância entre o que realmente a economia consegue produzir como riqueza real, tangível, em contraponto com o que é chamado nos balanços patrimoniais como riqueza, porém, a verdade é que é fictícia e as crises financeiras são justamente o momento de acerto de contas do “frenesi” fictício-monetário.