Sociólogo da USP conta que a boa formação profissional é crucial para a elevação da produtividade do trabalho
Por João Paulo Machado
O Brasil precisa melhorar a produtividade do trabalho. Segundo levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgado pelo jornal “O GLOBO” no ano passado, o país está na 50ª posição em lista com 68 economias, quando é levado em conta a eficiência dos trabalhadores.
De acordo com o estudo, um empregado brasileiro gera, em média, US$ 16,80 por hora trabalhada. Em países como a Alemanha, por exemplo, os funcionários produzem US$ 64,40 por hora, e trabalham, em média, 340 horas menos por ano que o trabalhador no Brasil. Isso significa que os alemães são quase 4 vezes mais produtivos que os brasileiros.
O sociólogo e professor da Universidade de São Paulo (USP) José Pastore, que estuda as relações de trabalho há mais de 50 anos, explica que a boa formação profissional é um fator crucial para a elevação da produtividade do trabalho no Brasil.
“Produtividade não é tudo para o crescimento, mas é quase tudo. Uma das coisas que o Brasil mais precisa no momento é melhorar a produtividade do trabalho. E no que entra na produtividade? Muitos fatores, entre os principais está a qualidade do trabalho. Com isso os salários sobem, gera-se mais emprego, as empresas competem melhor, vendem mais, os preços caem, a competitividade do país aumenta”, explica Pastore. Segundo ele, “a qualidade do profissional é fundamental para evitar o retrabalho, para evitar o desperdício e para fazer tudo com a maior qualidade possível”.
Formação de profissionais mais produtivos
O especialista afirma que, ao longo dos mais de 50 anos de experiência visitando instituições de ensino pelo país, as escolas do SESI e do SENAI no Brasil sempre se destacaram como exemplo a ser seguido. “Nunca vi uma escola dessa pichada, desleixada, com greves, com trabalhos por fazer. Ao contrário. Sempre os professores estão lecionando e utilizando equipamentos dos mais avançados possíveis para poder atualizar o aluno de acordo com novas tecnologias”, elogia Pastore.
Para o professor da USP, as escolas da rede SESI e SENAI deveriam, inclusive, servir de modelo para as instituições da rede pública, na implementação de um sistema de educação de qualidade. “Eu acho que o Brasil tem um grande capital na formação das pessoas e também na melhoria do capital humano que são as escolas do SESI e SENAI”, defende ele.
Desafios no Brasil
A sugestão de Pastore parece, à primeira vista, simples. Mas o problema é que até mesmo o ensino oferecido por estas instituições pode estar, em parte, ameaçado. Isso porque o governo federal tem sinalizado que irá executar cortes de 30% a 50% nas verbas repassadas a instituições do sistema S, do qual fazem parte o SESI e o SENAI.
Melhorar produtividade do trabalho passa por ensino profissional, afirma especialista.
Sociólogo da USP conta que a boa formação profissional é crucial para a elevação da produtividade do trabalhoSomente o Serviço Social da Indústria (SESI), por exemplo, conta uma rede de escolas de que beneficia 1,2 milhão de jovens com educação básica, principalmente de famílias de trabalhadores da indústria. Além disso, oferece prestação de serviços de saúde que inclui desde a oferta gratuita de vacinas, por exemplo, a exames de mamografia para trabalhadoras. Um corte nos recursos deste sistema pode acarretar na falta de atendimento para 1,2 milhão de pessoas, que teriam que buscar os serviços na rede pública ou custeá-los na rede particular, segundo informações do próprio SESI.