Por João Paulo Machado
O Brasil se encontra entre os piores colocados em rankings de educação pelo mundo. No principal deles, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), que observa o desempenho escolar em matemática, ciências e leitura, a situação é crítica. Os dados revelados em 2016 mostram que o país está entre os dez últimos do ranking nas três áreas avaliadas, ficando na 63ª posição em ciências, na 59ª em leitura e na 66ª colocação em matemática.
Neste ano, o PISA deve revelar novos resultados, uma vez que cerca de 13 mil estudantes brasileiros voltaram a fazer o exame, em março de 2018. Com a expectativa para a divulgação, uma pergunta continua sendo realizada para especialistas em educação. O que é necessário para elevar a qualidade do ensino no Brasil? Para Naercio Menezes, que é coordenador do Centro de Políticas Públicas do Instituto de Ensino e Pesquisa, o Insper, é “preciso focar na gestão”.
De acordo com ele, os recursos para a educação aumentaram bastante nos últimos 20 anos e isso foi positivo, “porque tivemos de incluir muita gente que estava fora da escola, principalmente no Ensino Médio”. Por isso, segundo o especialista, o foco, agora, “deve ser na melhor utilização desses recursos”.
“É preciso ter medidas para mensurar o desempenho dos alunos, avaliar os alunos de todas as redes, aumentar o número de horas-aula, cobrar melhor desempenho de diretores de escolas, avaliar o desempenho dos professores, entre outras medidas de gestão que deram resultados nas redes que mais se destacaram ao longo do tempo”, analisa ele.
Naercio Menezes explica que não é fácil transformar a gestão de escolas em um país de dimensões continentais como o Brasil. Segundo ele, “o governo federal não vai conseguir melhorar individualmente a gestão escolar de cada município”. Será preciso que o governo federal aponte a direção da reforma, mas, sobretudo, que “os governadores e prefeitos e os secretários de educação estejam alinhados com esses objetivos, que eles estejam realmente interessados em melhorar a nota de seus alunos e dispostos a comprar briga com os movimentos corporativistas para adotar medidas que tenham impacto nas notas”.
Soluções
Para solucionar o problema da educação no Brasil, o especialista do Insper acredita que uma das soluções é que as escolas da rede SESI, por exemplo, sirvam de modelo para as instituições da rede pública, na implementação de um sistema de educação de qualidade.
De acordo com Naercio, que realizou um estudo a respeito do modelo de ensino praticado no SESI, as escolas desta rede têm o desempenho superior às demais escolas privadas no ensino fundamental, quando analisados os alunos do 5º ano.
“Seria importante para a sociedade se o SESI conseguisse transferir a tecnologia de gestão aplicada nas escolas que são bem-sucedidas para a rede pública, que atende muito mais alunos em todo o país”, afirma.
O problema é que até mesmo o ensino oferecido pelo SESI pode estar, em parte, ameaçado. Isso porque o governo federal tem sinalizado que irá executar cortes de 30% a 50% nas verbas repassadas a instituições do sistema S, do qual faz parte o SESI. Para especialistas, a decisão pode provocar graves consequências para a educação técnica e, até mesmo, para serviços de saúde prestados à população brasileira.
Ao todo, o Serviço Social da Indústria (SESI), tem uma rede de escolas de que beneficia 1,2 milhão de jovens com educação básica, principalmente de famílias de trabalhadores da indústria. Além disso, oferece prestação de serviços de saúde que inclui desde a oferta gratuita de vacinas e exames de mamografia para trabalhadoras. Um corte nos recursos deste sistema pode acarretar na falta de atendimento para 1,2 milhão de pessoas, que teriam que buscar os serviços na rede pública ou custeá-los na rede particular, segundo informações do próprio SESI.