Na lista de nomes avaliados pela equipe do candidato Jair Bolsonaro (PSL) para ocupar o cargo de ministro da Saúde em um eventual governo, o pecuarista e presidente do Hospital de Amor [novo nome do Hospital de Câncer de Barretos], Henrique Prata, faz críticas ao que chama de “diretrizes politiqueiras” e “pouco assistencialistas” da pasta e diz que hoje só metade dos hospitais hoje “têm gestão honesta”.
“As diretrizes do ministério são muito politiqueiras. Cada partido inventa uma coisa, uma bandeira. E aí preferência por uma assistência à saúde básica. Saúde básica custa um cacho de banana, é barato demais. Saúde sou eu que tenho alta complexidade, que tenho hospital de câncer, que é altíssimo custo. A diferença é muito grande. A diretriz do ministério sempre foi política, não é assistencialista”, afirmou à Folha de S.Paulo na última semana.
Segundo Prata, o convite ocorreu por meio de uma “comissão” ligada ao deputado e que tem levantado nomes para um possível governo. Disse ainda ter encontrado Bolsonaro em agosto, durante a Festa do Peão de Barretos. “Como eleitor dele, é natural que eu fique lisonjeado pelo convite”, disse ele, que evitou falar mais sobre a possibilidade “por não ter nada oficial antes das eleições”. “Mas só o fato de o meu nome estar sendo indicado é uma coerência pela visão que eu tenho do que precisa ser feito na saúde”, afirmou.
O nome de Prata começou a circular na semana passada. Nesta segunda-feira (15), no entanto, Bolsonaro negou em entrevista à Rádio Jornal, de Barretos, que tenha convidado o pecuarista para ocupar o ministério. “Nunca conversamos sobre essa possibilidade. Não quero desmerecê-lo, quero restabelecer a verdade.”
A Folha de S.Paulo tentou contatar o presidente do hospital novamente nesta segunda para comentar as declarações do presidenciável, mas não obteve resposta. Em nota divulgada por sua assessoria à imprensa na última semana, porém, Prata confirmava ter recebido o convite e dizia ter “simpatizado” com a proposta após Bolsonaro afirmar que pretende montar uma equipe com técnicos em áreas estratégicas, caso da saúde.
Na entrevista, ele hesitou entrar em detalhes, mas disse ter “vontade de ajudar”. “O que vale é a vontade que tenho de ajudar na saúde. Eu me comprometi independente de qualquer coisa a ajudar ele a não errar na saúde. Não preciso ser ministro para ajudar”, disse.
Filho de médicos, Prata se tornou pecuarista e fazendeiro por influência do avô. Em 1989, no entanto, acabou por assumir o hospital criado pelos pais, na época chamado de Hospital São Judas de Barretos. Hoje, o local é considerado referência no tratamento de câncer, com 6.000 pacientes atendidos por dia e unidades em ao menos outras oito cidades.
Para Prata, que também atua na administração da Santa Casa de Misericórdia de Barretos e mantém uma faculdade de medicina particular, “o jogo hoje é desonesto para o paciente do SUS”. “O triste da história é que o paciente do SUS só é atendido dignamente se ele paga a diferença. Em poucos hospitais, talvez em metade possa ter gestão honesta. Em pelo menos metade sei que não é honesta”, afirma ele, para quem um dos problemas é o baixo valor pago pelo SUS pelos serviços. “Esse pagar muito mal interessa aos médicos de medicina privada. É ‘Olha, o SUS não paga nada, como eu te atendo? Tem que pagar a diferença’.”
Ele critica a possibilidade de alguns hospitais manterem médicos em plantão à distância [chamados caso haja necessidade]. “Se o Bolsonaro tivesse chegado na Santa Casa e não tivesse uma pessoa para atender ele na hora, ele estava morto.”
Antes do candidato, a quem conheceu há quatro anos ao pedir emendas parlamentares ao hospital, Prata teve apoio de Lula, a quem diz ter “apreço pessoal”.
“Como eu não tenho vínculo partidário, olho para as pessoas, não para o partido. Eu tive e tenho um apreço pelo Lula, pelo tanto que ele olhou pelo meu projeto. O parque tecnológico de medicina mais avançado no país hoje é meu graças a uma interferência pessoal do Lula, não do ministério dele. Sempre consegui alcançar o coração dele, assim como o Serra, uma pessoa sensível à causa de fazer medicina honesta para pobre”, diz.
Além de Prata, outro nome que vem sendo cotado pela equipe de Bolsonaro para a saúde é o médico oncologista Nelson Teich, diretor do instituto COI, que também atua na área de câncer. (Folhapress).