Por Cristiano Carlos
Reza a lenda que o herói espanhol do século XI, Rodrigo Diaz de Vivar, o El Cid Campeador, liderou uma batalha contra inimigos quando já estava morto.
Sim, El Cid havia falecido e a notícia de sua morte animou seus inimigos que decidiram invadir seu castelo. Como forma de animar as tropas e impulsioná-las à vitória, a esposa de El Cid decidiu colocar o corpo do marido em um cavalo. Protegido por uma armadura, e em posição de honra, o morto liderou as tropas cristãs contra os mouros islâmicos.
Essa lenda nada tem a ver com nossas origens ou história, mas serviu para o analista de riscos políticos, Paulo Kramer, exemplificar a forma como o Partido dos Trabalhadores, o PT, vem administrando a imagem do ex-presidente Lula junto ao eleitorado do país.
“Estão querendo “elcidinizar” o presidiário Lula da Silva, mostrando que ele tem capacidade. Insistindo em colocar como opção nas pesquisas um sujeito que nós temos certeza absoluta que não concorrerá”, disse.
No último domingo (8), o desembargador plantonista do TRF4, Rogério Favreto, mandou libertar Lula da prisão. O despacho foi o estopim para uma batalha jurídica que se arrastou durante todo o dia.
Favreto, Sérgio Moro, juiz responsável pelo caso de Lula na primeira instância, e o desembargador relator do caso Triplex do Guarujá no TRF4, Gebran Neto, usaram a caneta como arma e ora soltavam Lula, ora mantinham o ex-presidente na cadeia.
O cessar fogo veio do presidente do TRF4, desembargador Thompson Flores, que pôs fim à batalha e determinou a continuidade da prisão de Lula.
No entanto, o embate jurídico mostrou a audácia de um desembargador plantonista que, mesmo não podendo despachar em um processo julgado por dois colegiados, o do próprio TRF4 e do Supremo Tribunal Federal, encarou as altas cortes da Justiça para libertar Lula.
Paulo Kramer explica que a manobra do desembargador Favreto foi uma tentativa frustrada de viabilizar a candidatura de Lula e de fortalecer o PT na corrida ao Planalto.
“É uma tentativa de manter à tona a sua, quer dizer, do Lula e do partido, estratégia de sobrevivência. Eu acho que não deu certo. Essa decisão que acabou sendo tomada pelo presidente do TRF4, desembargador Thompson Flores, ela só serviu para, se alguém ainda tinha dúvida, mostrar para todo mundo que Lula não tem condições de concorrer e não concorrerá”, explicou.
Enquanto o PT insiste na candidatura de Lula, os partidos adversários estão participando de debates e percorrendo o país em busca de alianças. Para Paulo Kramer, a estratégia petista de manter Lula como candidato à presidência pode levar o partido a uma derrota histórica nas eleições.
“Se insistir nisso, ele estará fadado a uma crescente irrelevância no panorama político brasileiro. O PT perdeu 60% da sua força municipal nas eleições de 2016. Em quase 40 anos de existência, eles só conseguiram formar uma liderança que é Lula, que está preso. Insistindo nisso, eu acho que eles vão marchando, em marcha batida, rumo à irrelevância”, ressaltou.
O desembargador Rogério Favreto, que tentou soltar Lula, fez parte da equipe do ex-presidente e trabalhou como sub-chefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil, com os ex-ministros José Dirceu e Dilma Rousseff.
Além disso, Favreto foi chefe da assessoria jurídica do Ministério do Desenvolvimento Social quando Patrus Ananias, do PT, era o ministro, e ainda passou pela Secretaria de Relações Institucionais e pelo Ministério da Justiça durante o governo Lula.