De acordo com a ONU, a população mundial deve chegar a 9 bilhões até 2050, o que aumentaria a demanda por alimentos em 70%

De 2012 a 2016, o Brasil passou por problemas provocados pela falta de chuvas, sobretudo no Nordeste do país. De acordo com dados da Confederação Nacional de Municípios (CNM), nesse intervalo de tempo, a região registrou prejuízos de R$ 104 bilhões por causa da seca. O valor equivale a cerca de 70% das perdas em razão desse fenômeno.

Outro exemplo de prejuízo causado pela escassez de chuva foi a queda na produção de grãos no país, em 2016. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o feijão apresentou redução de 15,4%, na comparação com 2015. A produção de soja recuou 1,2%. Já o milho teve diminuição de 24,8% na produção.

Por isso, em anos de seca, os produtores agrícolas precisam suprir a falta de chuva com o processo de irrigação, que fornece água de maneira artificial para as plantações. Um levantamento apresentado pela Organização das Nações Unidas (ONU) aponta que quase 70% de toda a água disponível no mundo é usada em atividades voltadas para a agricultura.

No entanto, a própria Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) remete a realidade para outro sentido. Isso porque, de acordo com a ONU, a população mundial deve chegar a 9 bilhões até 2050. Logo, estima-se que a demanda por alimentos aumente 70%.

Com base nisso, o pesquisador na área de recursos hídricos e irrigação da Embrapa Cerrado, Lineu Rodrigues, afirma que os projetos de irrigação devem ser sustentáveis, mas não limitados a ponto de deixar a população da cidade sem comida.

“Não tem como se produzir alimento sem água. A água é fundamental. O que nós temos que fazer é uma boa gestão dos nossos recursos. A gente tem muita água. Quando você tira Amazonas do processo, que é onde tem mais água, a gente usa 5% de todos os usos e 2,6% da agricultura irrigada. Mas, você tendo uma boa gestão, um bom planejamento, temos água suficiente para atender a todos os usos”, comenta.

Lineu ressalta ainda que, se os projetos de irrigações fossem mais abrangentes, a produção dos alimentos se elevaria e futuramente não haveria a necessidade de abrir mais áreas para plantio em regiões de florestas. “No Brasil, por exemplo, nós irrigamos em torno de 7 milhões de hectares e temos um potencial de 70 [milhões]. Se a gente irrigar mais, a gente pode, no mínimo dobrar a nossa produção. Você evita a necessidade de abrir novas áreas, por que tem o efeito ambiental também”, ressalta.

O presidente da Embrapa, Maurício Lopes, afirma que há informações não verídicas sobre problemas que “desqualificam os avanços que o país alcançou na agricultura e na gestão dos seus recursos naturais”. Segundo Lopes, as lavouras e florestas plantadas ocupam 10% do território nacional e, “apesar de detentor de 12% das reservas de água doce do planeta, a produção de alimentos no país depende prioritariamente de chuvas”.

No Distrito Federal, programas realizados pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-DF), voltados para o cultivo de grãos e frutas, têm funcionado, mesmo em épocas de estiagem. É o que afirma o diretor executivo da instituição, Rodrigo Marques. “Morango, por exemplo, mesmo com a questão da crise hídrica, a gente conseguiu aumentar a produtividade, sem aumento de áreas, sem aumento de irrigação, só com algumas características que influenciaram,” afirmou.

Fórum Mundial da Água

Neste ano, o Brasil será palco de um dos maiores eventos globais sobre água: o Fórum Mundial da Água. De 18 a 23 de março, Brasília sediará encontros com apresentações de projetos de diversos países para o uso racional da água em todo o planeta.

Um dos presentes será o presidente das Centrais de Abastecimento do Distrito Federal (Ceasa-DF), José Aderval da Silva. Ele comenta sobre a importância da geração de alimentos e lembra da relação que a água tem na produção do sustento que vai diariamente para a mesa da população.

“Nós trazemos o programa do Desperdício Zero, que é um combate ao desperdício de alimentos, muito grande no Brasil. Temos o entendimento de que, você desperdiçando alimento, automaticamente desperdiça grandes quantidades de água”, salientou.

O Fórum Mundial da Água é organizado pelo Conselho Mundial da Água e acontece a cada três anos. Esta será a oitava edição do evento e, pela primeira vez, um país do hemisfério sul será anfitrião.