Por Hédio Júnior
Como é comum nos meses de janeiro, os dias na política seguem mornos em Brasília. Supremo e Congresso de recesso. E o Palácio do Planalto tentando articular a reforma da Previdência sem deputados na cidade. Diante desse marasmo, o que movimentou mesmo a semana do Executivo foi o imbróglio envolvendo Cristiane Brasil, a deputada federal indicada para ser ministra do Trabalho, mas que não consegue ser empossada por carregar nas costas ao menos dois processos trabalhistas. Cristiane começou a semana nomeada e a terminou embargada.
A Advocacia Geral da União, órgão que atua como uma espécie de departamento jurídico do governo, indica que vai tentar junto ao Supremo Tribunal Federal dar posse a parlamentar, já que uma decisão do juiz da 4ª Vara Federal de Niterói travou a nomeação com uma liminar. Enquanto isso, a pasta segue sem um titular, já que o ex-ministro Ronaldo Nogueira pediu demissão no final do ano para se dedicar às eleições de outubro.
Cristiane é filha de Roberto Jefferson, deputado pivô do mensalão cassado em 2005. Jefferson foi expulso da Câmara, mas não saiu da vida política. Colocou a filha para seguir o seu “legado”, enfrentou um câncer, nunca deixou o comando do PTB nacional, partido do qual faz parte, e se manteve no Rio de Janeiro. Agora, 13 anos depois da cassação, se prepara para ser candidato a deputado federal por São Paulo. Quer fazer o partido crescer no maior colégio eleitoral do país.
Jefferson é um homem intenso, de emoções. Desafiou o então todo poderoso ministro José Dirceu, do PT, a deixar o governo durante a CPI do Mensalão. Já apareceu com o olho roxo, justificado como um armário que caíra em cima dele no apartamento funcional que ainda ocupava em Brasília. E na semana passada, chorou. De emoção. Ao anunciar a jornalistas, que sua filha seria uma ministra de Estado, ele não se conteve. E viu na indicação uma espécie de renascimento da fênix em cinzas. “(Suspiro/emoção)… É o resgate sabe, é um resgate (de imagem, da família e de tudo que aconteceu no mensalão). Já passou, já passou”, disse, sem conter as lágrimas.
Lideranças do PTB comandado por Jefferson declararam durante a semana que a indicação do nome de Cristiane pelo partido se mantém. Alheia ao fato de uma ministra do trabalho ter sido ré e condenada a pagar R$ 60 mil a um empregado por dívidas trabalhistas. A legenda fechou questão na Câmara a favor da reforma da Previdência. Fechar questão é tipo o parlamentar ser obrigado a votar como indicado, senão sofre sanções que podem até chegar à expulsão do partido.
Com a decisão do PTB, o presidente Michel Temer garantiu votos em um placar que ainda parece apertado e incerto. Resta saber se bancará o possível desgaste dessa nomeação e manterá até o fim a tentativa de empossar a ministra que ainda não foi.