Em mais evidência há pelo menos seis meses, a reforma da Previdência tem sido motivo de longas discussões dentro do Governo. No Congresso Nacional, a luta é para conseguir os 308 votos necessários para que a reforma seja aprovada. Antes cogitada para outubro, a votação foi adiada para dezembro deste ano e depois foi batido o martelo para que seja retomada na primeira semana de fevereiro de 2018.
De acordo com dados do Tesouro Nacional, a estimativa de déficit no setor previdenciário para este ano é de R$ 181,6 bilhões. “Se nada for feito, daqui a dez anos só vão sobrar 18% para educação, saúde, segurança, ciência, tecnologia, meio ambiente, relações exteriores, porque 82% vão ser para a Previdência e benefícios sociais”, projeta o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG). O partido fechou questão na última semana a favor da reforma, mas ainda não definiu se haverá punição para os que votarem contra a medida.
PIB
Recentemente, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou um estudo que afirmava que, em 2050, 17% do PIB seriam voltados somente para aposentadorias no Brasil se o sistema permanecer da forma atual. A média esperada em outros países para esse período gira em torno de 9%. “É muito importante observar a tendência desses números. Se continuar como está, de fato, o gasto com previdência no Brasil deverá absorver uma proporção muito grande dos gastos”, comenta o especialista em finanças Marcos Melo.
Para Pestana, um dos motivos da crise econômica é a Previdência. “O Brasil, se não ajustar suas contas públicas, se não fizer a reforma, vai cair num buraco, vai cair em uma crise de novo”, diz. E acrescenta: “Todo sistema previdenciário tem que ter duas pré-condições, ele tem que ser sustentável e justo. O sistema no Brasil não é nem justo e nem sustentável”, lamenta.
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apresentou um estudo no início de dezembro que mostra que, entre 1992 e 2015, o número de pessoas recebendo o benefício da aposentadoria passou de 8,2% para 14,2%. E com o crescimento da população idosa, ainda segundo o estudo, a tendência é que o número de beneficiários aumente. “O envelhecimento já está tendo impacto e isso implica a necessidade de ajustes”, avisa o coordenador de Previdência Social do Ipea e autor do estudo, Rogério Nagamine.
O número de idosos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cresceu 16% entre 2012 e 2016. “O Brasil está brincando com fogo. Se não tomarmos as atitudes corretas, nós vamos viver uma nova crise, e grave”, diz Marcus Pestana. “Como dizia Ulisses Guimarães, ‘nós estamos fazendo piquenique na boca do vulcão”, finaliza.