O senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG), posto em recolhimento noturno obrigatório pelo Supremo Tribunal Federal (STF), foi abandonado por seus pares à própria sorte. E tudo indica que ela lhe será ingrata.
Dos 81 senadores, 79 estavam, ontem, aptos a votar. Eunício Oliveira (PMDB-CE), presidente do Senado, só votaria em caso de empate. E Aécio, pelas razões conhecidas, não poderia votar.
Oito senadores faltaram à sessão. Dos 71 que votaram apenas 21 disseram “não” à proposta de deixar para o próximo dia 17 qualquer decisão quanto à punição imposta a Aécio pelo STF.
No próximo dia 11, a punição será mantida ou revogada pelo plenário do STF. Se mantida, o Senado mostrou, ontem, claramente que não irá se rebelar contra ela.
“O erro político é desafiar quem tem a última palavra”, ensina o deputado Miro Teixeira (REDE-RJ). A última palavra quando se trata de aplicação da lei é do STF e de mais ninguém. E sempre será.
O Senado parece resignado com isso. Se, ontem, não topou afrontar uma decisão do STF, não afrontará a próxima. Se o fizesse estaria detonando uma crise institucional de rara gravidade.
Mesmo o PSDB, partido de Aécio, não votou fechado para livrá-lo da punição. Dos 10 senadores presentes à sessão, oito votaram como Aécio queria, mas dois não – Ricardo Ferraço (ES) e Eduardo Amorim (SE).
Zezé Perrela (MG) votou com Aécio. Perrela é aquele cujo chefe de gabinete recebeu os R$ 2 milhões pedidos por Aécio ao empresário Joesley Batista, dono do Grupo J&S.
O PMDB deu as costas a Aécio. Doze senadores foram favoráveis ao adiamento e somente cinco contrários – entre eles, Renan Calheiros (AL) e Romero Jucá (RR), presidente do partido.
Renan bateu boca com Eunício Oliveira e deu-se mal. Ouviu dele: “O senhor não manda aqui. Quem manda é o plenário”. Derrotado, Renan esperneou, mas nada pôde fazer além disso.
“Chegamos ao fundo do poço”, comentou um senador do PSDB ao fim da sessão. Otimismo demasiado! O fundo pode ser mais embaixo para um partido que foi incapaz de punir quem o presidiu e prevaricou.
Dê-se Aécio por satisfeito se não tiver seu mandato cassado pelo Senado.
Ricardo Noblat