Embora negue qualquer movimento para derrubar o presidente Michel Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), adotou um comportamento diferente do que teve durante a tramitação da primeira denúncia contra o presidente, entre julho e agosto. Se naquele período Maia, que é o primeiro na linha sucessória do presidente, ajudou o governo a conquistar votos para barrar as investigações, agora ele se sente liberado da tarefa.
A mudança pouco tem a ver com o conteúdo da nova denúncia, que começou a ser apreciada na semana passada pela Câmara, na qual Temer e dois ministros são acusados de formação de quadrilha e obstrução da Justiça. Sua insatisfação com o Planalto foi causada, principalmente, pela abordagem que o partido de Temer, o PMDB, faz sobre quadros políticos que vinham sendo cobiçados pelo DEM.
Devido ao poder que ganhou na presidência da Câmara e, posteriormente, como sucessor natural de Temer, combalido por denúncias que podem afastá-lo do Planalto, Maia assumiu a tarefa de aumentar o tamanho de seu partido. O principal alvo do DEM era o grupo de parlamentares da ala dissidente do PSB. O PMDB atravessou o caminho e já conseguiu levar o senador Fernando Bezerra Coelho e o filho dele, o ministro Fernando Coelho Filho. A líder do PSB na Câmara, Tereza Cristina (MS), teve várias conversas com Maia sobre mudança para o DEM, mas também tem sido cortejada pelo PMDB.
No último dia 20 de setembro, uma semana após Rodrigo Janot apresentar a segunda denúncia contra Temer, Maia tornou público o que vinha falando nos bastidores:
— Se nós somos aliados, nós temos que ser aliados. A gente não pode ficar levando facada nas costas do PMDB. Principalmente dos ministros do Palácio e do presidente do PMDB.
Apesar das seguidas demonstrações de Maia de que a relação com o presidente azedou, interlocutores seus afirmam que não partirá dele a iniciativa de se movimentar para afastar o presidente.
— O Rodrigo puxou para si a tarefa de fazer o DEM crescer. E o PMDB está atropelando. Isso o tem deixado indignado. Ele sente que não tem mais compromisso com o governo. Mas não quer fazer o gesto de agir contra o presidente porque não acha correto. Se alguém quiser fazer, ele não vai impedir — disse um deputado amigo.
Líderes de partidos da base aliada veem as atitudes de Maia como um movimento irreversível para o rompimento do DEM com o governo. A avaliação é que o projeto político do partido para 2018 inclui o afastamento imediato do governo Temer. O projeto prevê as candidaturas de Cesar Maia ao Senado, de Rodrigo ao governo do Rio e de ACM Neto ao governo da Bahia. Mas não está descartada a presença do partido na chapa presidencial.
— Quem vai decidir esse rompimento é o Rodrigo Maia e o ACM Neto. Quem ainda segura é o ministro Mendonça Neto. O Rodrigo tem dado avisos muito claros, está arrumando desculpas para justificar o rompimento — avalia um dirigente de um dos partidos da base do governo.
A ordem no Planalto é não alimentar o confronto com o presidente da Câmara, para não dar mais importância ao embate do que ele realmente tem. Assessores dizem que o governo não vai fingir que os problemas não existem, mas evitará o embate direto.
O Globo – Catarina Alencastro