Desde o escândalo do mensalão, as comissões parlamentares de inquérito têm perdido força e prestígio no Congresso. A marcha para a irrelevância deve ganhar um novo capítulo nesta terça-feira, com a abertura da CPI da JBS.

No discurso, a comissão foi criada para investigar os negócios suspeitos do frigorífico. Na prática, seus idealizadores querem usá-la para retaliar os delatores da empresa e intimidar procuradores da Lava Jato.

As intenções da turma estão claras desde o início. O senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO) (foto) começou a coletar as assinaturas dias depois de Joesley Batista entregar as gravações com o presidente Michel Temer.

Escolhido para presidir a CPI, o tucano não tem se esforçado nem para simular independência. No último sábado, enquanto a maioria dos políticos passava o feriadão longe de Brasília, ele foi recebido em beija-mão no Palácio do Jaburu.

O governo ainda pretende instalar outro aliado no cargo de relator. Nesta segunda, o mais cotado era o deputado Carlos Marun (PMDB-MS), líder da tropa de choque de Temer e amigo dileto de Eduardo Cunha.

Ninguém discorda que a JBS precisa ser investigada. O dono do grupo corrompeu dezenas de políticos, confessou crimes em série e ainda tentou tapear o Supremo Tribunal Federal, como mostraram as fitas liberadas na semana passada.

O problema é saber se essa CPI tem chance de levar a tarefa a sério. Para o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), tudo indica que não.

“O Planalto quer usar a CPI para intimidar o Ministério Público. Nos últimos anos, a maioria das CPIs tem se dividido entre o circo e o achaque. Acho que desta vez teremos circo, achaque e intimidação”, prevê.

A CPI parecia natimorta até a semana passada, mas foi ressuscitada pela barbeiragem da Procuradoria no caso JBS. As novas denúncias contra dirigentes do PMDB e do PT forjaram a aliança que faltava para o início dos trabalhos.

 Bernardo Mello Franco – Folha de S.Paulo