Por Leandro Colon – Folha de São Paulo

A prisão de Geddel Vieira Lima ocorre no mesmo dia em que, provavelmente, o procurador-geral, Rodrigo Janot, pedirá a revogação da imunidade concedida aos delatores da JBS.

A segunda notícia tende a causar certo alívio ao Palácio do Planalto, porque praticamente sepulta as chances de uma segunda denúncia contra Michel Temer passar na Câmara.

Já o retorno do ex-ministro baiano à cadeia reabre a sombra de mais uma possível delação premiada que pode comprometer o presidente.

A descoberta de impressões digitais de Geddel em notas dos R$ 51 milhões apreendidos no “bunker” em Salvador deve inibir uma ação na segunda instância da Justiça para liberar o político do PMDB.

Não parece plausível um argumento de defesa que justifique essa dinheirama escondida. Uma fatura em nome de uma funcionária do irmão de Geddel, o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), foi encontrada no local.

Como diz a PF em seu relatório que embasou o decreto de prisão, há “fortes indícios” de que o dinheiro pertence a Geddel. “O dinheiro apreendido tem, certamente, origem ilícita”, reforça a polícia.

Investigadores apostam que, diante desses novos fatos, Geddel passará um bom tempo em prisão preventiva.

E o tom do juiz Vallisney de Souza Oliveira no despacho de prisão indica que são remotas as chances de o ex-ministro escapar da condenação e de mais tempo de prisão.

Tem-se aí um forte candidato a delator, por mais que Geddel venha dizendo nos bastidores que jamais assinaria um acordo de colaboração.

Antonio Palocci levou um ano, desde que foi preso pela Lava Jato em Curitiba, para começar a contar o que sabe. Ele demoliu o ex-presidente Lula em minutos no depoimento de quarta (6) a Sergio Moro.

Geddel retorna hoje para a prisão em Brasília. Ao deixar o governo Temer no ano passado, após o escândalo do prédio de Salvador, chamou o presidente de “amigo fraterno”.

Lula, ao menos até quarta-feira, também classificava Palocci de “amigo”.

Meses de confinamento em uma prisão podem mudar o conceito de amizade.

Otimista com a iminente derrocada da delação da JBS, Temer terá agora de lidar com o tormento por ter um velho amigo preso a poucos quilômetros do Palácio do Jaburu.