Eduardo Maretti, RBA – O deputado federal Silvio Costa (PTdoB-PE) não mede palavras para analisar a atual conjuntura política, partidos e lideranças aos quais se opõe. Na opinião do parlamentar, a votação que deu ao presidente Michel Temer a vitória que o mantém no cargo, na quarta-feira (2), foi ilusória. “Se ele tivesse tido 363 votos, teria saído com força política. Mas foi uma votação pífia para o esforço que ele fez. É um governo que vai continuar moribundo”, diz o parlamentar.
Para o deputado, o papel do PSDB na votação, que livrou Temer de ter a denúncia por corrupção levada ao STF, por 263 votos contra 227, pode ser resumida em uma frase: “O PSDB precisa de um psiquiatra”. Da bancada tucana na Câmara, de 47 deputados, 22 votaram a favor de Temer, 21 foram contra e quatro se ausentaram. Ainda assim, os tucanos continuam no governo e ocupam quatro ministérios.
Costa acredita que a vitória governista, mas por margem inferior a votações anteriores e relativamente estreita, mostrou que Temer representa “um governo que vai continuar moribundo”.
Para ele, “o primeiro efeito colateral dessa pseudovitória de Temer” é a reforma da Previdência. “Essa subiu no telhado. Não será aprovada nunca.”
Como avalia a situação na Câmara após Temer ter conseguido barrar o andamento da denúncia ao STF?
O Michel Temer teve uma vitória matemática, mas foi uma derrota política. Por quê? Todo mundo sabe que ele abriu o Diário Oficial, fez a maior nomeação de cargos dos últimos tempos. Todo mundo sabe que ele agilizou o processo de empenho de emenda, e, com toda a truculência de uso da máquina, mandou 12 ministros no dia (da votação), e esses ministros não foram apenas votar, foram para lá trabalhar voto. Um ministro estava com uma lista dos favores que eles faziam aos deputados. E com tudo isso ele só conseguiu 263 votos. Ponto. Primeiro efeito colateral dessa pseudovitória de Temer: a reforma da Previdência. Essa subiu no telhado. Não será aprovada nunca.
Por quê?
Se ele tivesse tido 363 votos, ele teria saído com força política. Mas foi uma votação pífia para o esforço que ele fez. É um governo que vai continuar moribundo. Se eventualmente acontecer uma nova denúncia, ele vai recomeçar todo o processo, e não sei mais o que ele tem a oferecer aos deputados.
Ele tem um problema sério, agora. Ficou refém da chantagem. A frase que eu mais escutava da base era a seguinte: “pra gente interessa governo fraco e parlamento forte”. Essa é a lógica dos caras. Quanto mais fragilizado Michel Temer estiver, mais eles podem chantagear. Observe que o “centrão” começou a chantagear agora para “demitir” o PSDB. O correto era Temer “demitir” (os ministros do) PSDB, que o traiu vergonhosamente. Ele não “demite” o PSDB porque ele é refém de uma eventual nova denúncia.
Como avalia a posição do PSDB na votação?
O PSDB precisa de um psiquiatra. Primeiro, o líder (Ricardo Trípoli – SP) orienta todo mundo a dar presença. Ou seja, quem queria derrubar Temer não poderia dar presença. Essa foi a primeira orientação do líder Trípoli. Segunda coisa, ele depois vai à tribuna e orienta a favor da denúncia (contra Temer). Aí, metade vota de um jeito, a outra metade vota de outro. Então, isso é caso de psiquiatra.
Mas o PSDB não está jogando dos dois lados, ao mesmo tempo se dizendo contra a corrupção mas a favor das reformas?
O partido que saiu pior desse processo foi o PSDB. Se alguém saiu manchado desse processo foi o PSDB. Saiu como um partideco, um partido sem cara. Aliás, com uma cara: cara de sem vergonha.
Como o senhor vê as articulações para o ano que vem? O presidente Temer ainda pode cair ou se mantém até 2018?
Claro que pode. O Temer é uma pessoa que está num fio a mil metros de altura. A qualquer momento ele pode cair. Isso vai depender de uma eventual delação premiada de Eduardo Cunha, de uma eventual delação premiada de Funaro, de uma nova denúncia do Janot. Na verdade, os deputados que votaram “sim” (a favor de Temer), como eu disse no meu discurso, oficializaram a corrupção no Brasil. Porque um cara que foi pego fazendo obstrução de Justiça, em um determinado momento um empresário falava com Geddel (Vieira Lima), depois “pode falar com Rocha Loures” (ex-deputado PMDB-PR), depois o Rocha Loures aparece com uma mala de dinheiro, e esse cara não praticou corrupção?
Sobre a reforma da Previdência, o governo não pode fatiar e aprová-la aos poucos?
O governo está com peça de discurso, só. Ele precisava de um discurso que agradasse o setor produtivo pra dizer que tem algum fôlego. Por isso a primeira fala de Michel Temer foi dizer que vai fazer a reforma da Previdência. Ele não tem voto no Congresso pra fazer. Pode fazer uma perfumaria, mexer só na idade, que não aprova.